quarta-feira, 30 de maio de 2007

Sinédoque

Será de fato aceitável
recorrer aos deuses
para ser mais amável
algumas tantas vezes?

Ou será mesmo no chão
que tudo apodrece
ouve-se um grande não
e nada mais floresce.

Volto a casa, translúcido
deixo o tempo passar
antes de ter-me partido
depois de vê-los ficar.

Sou agora somente eu
num estado desnatural
de pensar efêmero e ateu
acintosamente irracional.

Quero de mim um décimo
do que senti na pele
por isso fujo ao máximo
de tudo que me flagele.

Uma casa, un chauffeur
uma mulher importada
maison au bord de la mer
uma noviça abastada.

Que pr'eu parar de proclamar
e ver se os deuses resolvem
minhas lamentações de amar
já que nem mais me ouvem.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Le Petit Prince, Antoine de Saint-Exupéry

Les Invasions barbares (France, 2003)
Diretor e Escritor:Denys Arcand


sexta-feira, 25 de maio de 2007

Incomum

Passou do tato à memória
dizia que não gosta e ela murchou
fez papel de tola,
jogou a toalha mas
ainda assim era de plástico.
Juntos os cacos,
colou os lados, de canto
via-se os olhos entreabertos,
fechando a porta
que restou aberta
depois que o sol se pôs.
E enquanto passava
o trem destoava
com seu barulho novo
de onomatopéia:
viu, sentiu, lembrou
e agora deu saudades.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Carioca, Chico Buarque

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Todo mundo quer...

Todo mundo quer apenas
um pouco de carinho
daqueles bem pequininho,
de fazer cair o chão.

Todo mundo pensa
em fazer muito carinho
mas nem todos querem
fazer papel de bobalhão.

Todo mundo s'imagina
distribuindo carinho
daqueles sem-vergonha
que se tocam de montão.

E todo mundo morre
sem fazer carinho
porque bem atrás da moita
s'escapam da emoção.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

All of me, Billie Holiday

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Descartáveis

Somos todos nós descartáveis.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

"Vontade de me jogar fora!" (Descartável)
Francisco Alvim

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Confusão

É necessário exprimir em palavras decrescentes o ódio crescente de estar do mesmo modo que foi dito outro dia quando já não se podia dizer em palavras ausentes sentimentos latentes de restar sem coração deturpado que foi onde apenas havia pensamentos dormentes de propostas decentes desencorajadas a ficar naquele lugar que já não existe mais e puro demais para quem não tem a vertente mormente consistente de mandar naquilo que foi alvo de chacotas e anedotas pudera exprimir tamanha revolta por aniquilar qualquer sentimento de perdão e amor para se perder completamente nas coisas da mente e alimentar um ego arrefecido em lágrimas petrificadas por contemplação e dor de não mais ser lembrado por quem deveria lembrar de pensar todos os dias como a gente era contente em manter um e o outro na mente sem trocar as sinapses de lugar para reformular os momentos deprimentes de angústia e labor e arrancar da mente a ira saliente que insistia em amordaçar os calos do amor que você fatalmente deixará.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Cherish, Renato Russo

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Um ser amado...

Um ser amado
devia ser naturalmente
cortejado
e de modo algum
corado
quando belas palavras
escutado.

Um ser amado
devia ser eternamente
idolatrado
e deveras vezes
perdoado
quando erros banais
praticado.

Um ser amado
devia ser simplesmente
cultivado
e todos os dias
adorado
mesmo com amor
fracassado.

Um ser amado
devia ser
acima de tudo
amado!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Nostalgia, Eduardo Hansch

terça-feira, 15 de maio de 2007

Liberte-se!

A solução dos problemas
está no âmago de todos os anseios
dos mortais.
Está em mim, em ti, em você,
todas as respostas que procuramos nós
encontramos na lacuna mais cavada,
no buraco mais profundo,
exatamente aquilo que queremos
e o que pensamos ser,
um objeto anacrônico imerso na
infelicidade de não estar no tempo
e no espaço da resposta
que não quer ser encontrada.
Mas se queremos mesmo ser
aquilo que de fato não é
vivamos agora a mais bela e constante
mutação que poderíamos suportar,
não prescindível de nada,
deveras impenetrável.
Se exigimos de fato ser
as coisas que desejamos viver
naquele dia que não chega,
retiremos dias e anos
desse tempo pródigo de amor
e carinho imediatos,
sentimentalidades que pretendem
de você e de mim e de ti qualquer coisa
melhor que outrora,
coisa própria de si, sem dono
sem espaço definido
para seu âmago se acomodar
e sem tempo,
sem tempo para se curvar.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Um céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas, Rubem Alves

Hurt, Jonnhy Cash

domingo, 6 de maio de 2007

Paisagem

Entre as pedras via-se o retrato escuro da noite.
A estrela, onisciente e solitária, testemunhava
todos os momentos daquela nostalgia sem fim.

Para todo lado silêncio, calmaria surreral e constante.
Nada, absolutamente nada para mitigar o ópio
de se deliciar com o prazer dessa contemplação.

Se fui eu quem trouxe o espírito terno da concórdia
imerso nesse habitat natural dos poetas - o coração
sentido por aves, peixes, sentido por anjos e sereias,

Quero ser para todo o sempre uma espécie de locomotiva
da felicidade, que traz à tona todos esses sentimentos de
ternura e dor, contemplação e ódio - não aflorados até então.

Nas pedras residia ainda o espírito sincero da simplicidade
proveniente daquela singular estrela, formosa fonte de luz
capaz de enfeitiçar todas as coisas e a todos ao seu redor.

O silêncio - interrompido pela locomotiva de sentimentos agora
já aflorados, é substituído por palavras doces, espasmos de
alegria que a todos contagia, com sorrisos de algodão no céu!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Put Your Lights On, Santana & Everlast