sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Rectidão

O mundo está redondo
E de casa não a via.
Se fosse um Bavette
Sob o mar triunfaria.

Só que isso nada sou!

O mundo gira torto e
De lado não percebo.
Amiúde, quando a vejo
Sou de novo um ancião.

Quiçá entenda o jovem
Alhures neste espaço.
Um Homem, de lisura
Um futuro de sucesso.

Mas a história é de mentira
Foi maculada à surdina
Por aquele que difama
O amor da doce amada.

Esse amor, tão belo e forte
Se mantém na realidade
Já conheço o que não quero
O que eu quero é lealdade.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Alegria, Alegria, Caetano Veloso

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Reptação

Mais um mês avigora sua não chegada.
Partem dedos e alertas, sobram contas.
Um receio imerso no próprio descuidado
E a certeza da incompreensão latente.

Será somente a vaga lembrança
de um futuro ainda não pensado?

Diferente do que se vê, do que sente.
Um confuso bem-estar de convicção.
Tragam-me as tulipas, Reptem-me!
O mundo carece muito de idealistas.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Ensaio Sobre a Cegueira (2008)
Direção: Fernando Meirelles

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Tato Social

Para tentar entendê-los
Palavras são simplesmente
Imputadas desnecessárias...
Os corpos enlaçados
Em tensos braços amantes
Quem pronuncia o tato?

Ah, os olhos fechados!
Tudo prestes à sensação
A mais pura leveza,
Um sentimento esbelto
Que desfila na rua,
Nas rodas da ingratidão.

O despertar do infortúnio
Vacante em passos largos
Ao devaneio perpétuo
Para tornar a recuperar
Um corpo, Imobilizado
Uma alma, Decomposta.

E tu nunca mais serás par
Nunca mais regredirás
Nunca mais descartarás
O Amor, e tu serás - sim
Um ser humano ímpar
No tato raso da multidão.

Tudo explodirá - e tu?
Quem és tu? Onde estarás?

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Society, Eddie Vedder

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O que era?

Eu tinha uma dádiva.
Se fosse por mim,
Nem se continha.
Era uma infâmia.

Mas nada era
Se não percebia.

Como uma mácula
Uma falta de dor
Só se sentia perto
Se perto consentia.
E era difícil andar ou
A graça estremecer.

O que era, então?

Era o silêncio do não
E a desatina canção.
Um poço de verdade.

Nada do que já existe.
Às vezes é só fantasia
Quase sempre era.

Já não é mais!
Agora é a verdade
Que de tão séria
Vai faltar por lá,
na terra da cortesia.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Insensatez, Vinícius de Moraes e Tom Jobim

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Desatino

O sentimento desentranhado
Leva-nos a perceber
O vão e a displicência
Do bem amado.
Quando não se gostava
O tato remediava o fato.
Mas agora, quando se gosta
Época de mimetismo e amor
O empenho denota o vão
E a simples equiparação
Causa tristeza irremediável.
Logo pensamos: será que há
Gente como a gente?
Reconheçamos-nos, ao menos
Nos píncaros da latência
Para que nossa deficiência
Liberte-se em aliteração
E some todos os anseios
Aos sonhos do outro coração.

Rodrigo Sluminsky




+++ Etecetera

O Guardador de Rebanhos, Alberto Caeeiro

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Das coisas e das pessoas

Tem gente que aparece
Mas outros solidificam
De um lado, enobrecem
Só que do outro, fincam

Na alma, uma estaca
Em cima, um tampão

Nada por aqui é em vão
Uma porção de cogumelo
Ou um piano abandonado
Tudo aqui tem seu valor

E tudo nessa vida é alto
E tudo alimentado cresce
Eu fico, eu faço, eu volto
Nada me deixará arrefecer.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

www.wandula.com

http://br.youtube.com/watch?v=-fpVD0sJoAU

terça-feira, 27 de maio de 2008

O quem?

quem empurra
na ponte que cai?
mas se a ponte cai
alguém a derruba
ou só empurra
aquele que cai?

Rodrigo Sluminsky


+++ Etecetera


confirma
tudo que
respira
conspira

Paulo Leminski

sábado, 24 de maio de 2008

Amanhã

Eu te imploro mais um dia de ausência
Para que me proíbas de desfrutar teu ser
Enquanto meus braços estiverem atados
Nesta antiquada e doentia probidade
Quero que entendas a minha comichão
De um pobre ser humano miserável
Sem jardins para colher as tuas flores
Como um ébrio coletando êxtases pelo ar
E só peço que não te sumas da fantasia
Mesmo desacostumado com tua ausência
O amanhã tem lugar cativo no barquinho
Que ruma virtuoso e belo sobre as nuvens
Tudo que ouviste acerca do sol e do tato
Está muito bem guardado lá no porão
E eu te procurarei no escuro, meu anjo
E vejo um futuro que não tem tamanho.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

The Sweetest Gift, Sade

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Um tempo de alienação

Um tempo de alienação
Tatos de poliglota.
Desejos desvairados?
Ultimato militar!
Castelo de argila,

Beijo apaixonado e
Máquina de dançar.
No alto, o horizonte
E a cama sobre o mar.
Se anseio o rarefeito
Na verdade quero já!
Esse mundo gira torto
Mas nem todo dia
Tropeçamos no azar!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Soundtrack from "Into the Wild", by Eddie Vedder

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Delírio

imóvel,
um toque de jasmim
trouxe à alma o afago
e o que eu trago?
um trago, no botequim
será o fim? não!
com calma, um abraço
no espelho da ilusão
até pedra alça vôo.

Rodrigo Sluminsky







+++ Etecetera

Elegie op. 3 n° 1, Sergei Rachmaninov

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Palavras

Não sou cara de palavras!
Ao menos as palavras ditas
Ouvidas pelos que vêem.
M'aprecia bem guardá-las
E somente as proferir
Quando aos olhos me convém.
Fico aqui, a meditar
Um pensamento, um lugar
Para aquelas que perdi.
Prefiro a palavra escrita
Talvez por escondida
De quem não a contém
Porque as palavras não ditas
Que os olhos não enxergam
Essas sim, poucos tem.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Villa-Lobos, por Astor Piazzola

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Gangorra da Vida

Como pode a queda cair assim
tão de repente,
nos braços de quem tutela
laços e sentimentos tão sinceros.
Pode ser que a queda seja falsa
- uma pseudo-queda!
Alarmando nervos e passos em vão...
Ou pode ser que tu se enganas
pensas que escolheste o lado certo
e nem imaginas que caíste
na queda mais profunda...
Mas se a queda cai assim
enquanto mantiveste a pose
ou tu quem cai
enquanto a queda fica,
a queda e tu, ou tu e a queda
nada mais são do que uma gangorra
A gangorra da vida!
Que equilibra tu e a queda,
enquanto a queda cai, o outro fica.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Eu, Malika Oufkir, Prisioneira do Rei, Malifa Oufkir e Michèle Fitoussi

terça-feira, 15 de abril de 2008

Ah, se todos soubessem...

Ah, se todos soubessem...
Fechar os olhos e desconectar
Todas as sinapses de lugar
Ouvir a ira saliente do trompete
Parafraseando sístole e diástole!
Não fossem os alvos, as metas
Os sábados aliciados em vão...
A ternura escorraçada ao acaso!
Se todos pudessem sentir o tato
Das pessoas que nem existem...
Se ao menos se tocassem, estes
Quiçá conhecessem o universo
Encravado naquele grão de areia
O mundo no leito da lealdade,
Todos com suas flores prediletas
Eu com minha adorável margarida
Que nem sei se flor ou se é moça
Mas de tão alva e frágil e bela
Fez de mim um indelével sonhador
E cada qual com seu ópio,
E cada protelado com sua cópia...
Por que cessaram com seus sonhos?
E por que temos que suportá-los
Se cá despretensiosos estamos?
Talvez precisem saber do anseio
Por um cabal grito de liberdade,
Do corpo e do espírito e tudo mais
Necessidade premente da soltura.
Mas não! Preferem os calabouços:
O entranhamento e estranhamento
De sentimentos, a horrenda sentinela
Que nos controla e alucina nosso ar
Com seus alucinógenos vulgares...
Se todos soubessem do resultado:
Que vale o amor, quando explode
Que vale a morte, quando revitaliza.
Tanta coisa maravilhosa à deriva
E os mortais, envoltos na pecúnia?
Triste ser, aquele deveras desolador,
Refutar o auge da loucura por Deus?
Preferir a retitude à sensibilidade?
Deixemo-nos tocar uns nos outros,
Permitamo-nos a mistura de cores...
Só quero um pouco de mim em você
E um pouco de você nela, sem alarde
Uma miscigenação da lascívia alheia
E todos e sempre com olhos no além e
Ouvidos e flancos perpétuos à felicidade.
Oxalá uma vida a esmo e sem carência,
Só a incontinência, desvairada e linda,
E um só tempo para os sempiternos.

Rodrigo Sluminsky




+++ Etecetera

O mundo é um moinho, Cartola

terça-feira, 8 de abril de 2008

A áurea da fadiga

A áurea da fadiga
- há quem diga
caiu na pauta
da inspiração.
O que eu quero
nem nome tem!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

http://www.ciadeborahcolker.com.br/

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Mocidade

Agora, a felicidade
Que não tem idade
Mas que tem carência
Do lado a paciência
E o que já era tarde
De novo é indecência
Resquício de saudade
Abuso de prudência
No lixo, a vaidade
Na alma, a essência
Um pitaco de latência
E a velha mocidade
Renova a identidade
Nos braços da querência.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Yesterday, The Beatles

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Enquanto o tempo...

Enquanto o tempo
passa pelos olhos
aos pés da escada
os olhos passam
aos pés que movem
um novo tempo:
outros olhos e pés
cansados de esperar
o tempo passar!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

O Sole Mio, Luciano Pavarotti

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Ansiedade

ao primeiro estalo
o corpo bamboleia
o sangue esquenta
a face, antes rubra
agora jamais peleia
mesmo os braços e
pernas, ou o cabelo
que nem despenteia
todos os apêndices
antes descontraídos
agora presos na teia
de nervos e tensões
prestes à calmaria.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Relax (take it easy), Mika

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Brasileiro

O poema só divaga
O problema é virtual.
O potente me garante
O projeto é sexual.
O porquê não me responde
O profeta é textual.
O postulado só me engana
O provável é eventual.
O populista pronuncia
O prospecto usual.
O posseiro me atropela
O probante é ilegal.
O político só quer ter
O poder habitual.
O poderoso não divide
O produto desigual.
O porrete me assola
O progresso é nacional.
O polícia não destoa
O povão é marginal.
O povo não se informa
O processo é racional.
O porco se distingue
O procedente é maioral.
O podre prolifera

O profícuo é casual.
O pó afaga a alma
O profano é animal.
O poeta se apaixona
O pro forma é tudo igual.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Pra não dizer que não falei de flores, Geraldo Vandré

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Conselho

Chega o dia em que a realidade vem à tona
Amargurando todos os nossos dias de ilusão.
Pensamentos recorrentes o deixaram pálido!
Agora você que decide pelo lado da coragem
E se prefere mesmo o caminho do progresso!
São pequenos passos nesta rua fria e escura,
E não seria saudável subestimar o lado do erro.
Você sabe que já ouviu diversos bons conselhos;
Você sabe que já experimentou o ócio e o amor.
Pode ser agora que o tempo finalmente chegou,
Com seus olhares sincréticos e coloridos...
Assim como um trem, que passa rápido demais,
É preciso se apressar para não perder o ponto.
Só que para não tropeçar nas próprias pernas
Uma boa dose de destruição se faz imperiosa:
Quebre rapidamente todas as portas para o vil,
Agora você escolhe entre a honra e a infâmia.
Picote com as mãos cartas de amores falidos
E as queime juntamente com o coração.
Fotos e recordações, somente as essenciais!
Amigos, só os dos dedos (inclusive dos pés).
Venda ou doe boa parte de sua biblioteca,
Mantenha livros de poesia e guias de viagens
E corte barba e cabelo de um jeito incomum!
O importante é sentir o amadurecimento
E se permitir agir sem medo do remorso...
Lembre-se que com a honra você escolhe
Ser um pássaro grande, belo e moribundo
Mas que sabe exatamente seu último ninho!
Aliás, nada disso tem a ver com sucesso,
Isto (e outras coisas) acaba sendo supérfluo.
Ao optar pelo volúvel caminho dos amantes
Você segue a mais bela trilha da felicidade,
Um percurso cheio de emoção e lágrimas
Como as que esparramam por sobre o papel...
Agora, meu caro, o futuro todo lhe pertence,
Em cada passo uma nova bela descoberta,
A cada incerteza uma nova sorrateira paixão.
E tudo sempre vertiginosamente intenso,
E tudo apaixonado e tão cheio de emoção,
Que deixará no peito dos que o viram passar
Um buraco imensurável e formoso de saudade
E um vazio intransponível pelo esquecimento
Que nem mesmo a certeza da existência latente
Fará o mundo girar do mesmo modo que outrora.

Rodrigo Sluminsky




+++ Etecetera

E agora, José?, Carlos Drummond de Andrade

domingo, 13 de janeiro de 2008

Poeminha

Agora eu choro
no teu colo
eu imploro
estou cansado
de sofrer.

Lá fora eu moro
contigo eu decolo
e te exploro
tá na hora
de viver.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

I'm Yours, Jason Mraz

sábado, 12 de janeiro de 2008

Metapoesia

Eu não escrevo
o que penso
Quando penso
eu escrevo
eu sinto
depois apago
Tudo prospera

quando deixo
de pensar

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Trecho de "Poemas Inconjuntos"

Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Alberto Caeiro

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Paisagem

Isto aqui não é fotografia!
São somente pássaros,
voando
E um sol reluzente,
à tardinha
Ocaso sobre um mar,
delirando
Pelas aventuras
que continha
À espera de nuvens,
espalhando
Cada nova estrela que
nascia
Acho que isso não é fotografia
É paisagem e poesia, todo dia!

Rodrigo Sluminsky




+++ Etecetera

I´m Yours, Jason Mraz

Youtube

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Código da Vida

A Dor e a Angústia
mesmo as maiores
quando arrostadas
acariciadas por nós
enobrecem a causa
que um dia qualquer
remeterá o prêmio
àqueles que amam e
perdoam o próximo:
Uma lágrima de pai;
Um sorriso de filho.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Uma pequena homenagem à obra Código da Vida, do Dr. Saulo Ramos (Ed. Planeta, 2007). Pouco saberá ele que ganhará distintos seguidores de sua paixão pela ética e pela cordialidade. Morreremos lutando por princípios, sem vender nossa alma!