segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Exausto

O povo anda trôpego pelas vielas
Com máquinas e fardos nas costas
Pagos à prestação, emprestados
Dos manda-chuva da estação.

Os amigos parecem que esquecem
Que nem do folguedo ou da orgia
Provém o carinho da amizade, mas
Dos pedestais da cumplicidade.

E a família vive a rodear o problema
Compra sorrisos e cumprimentos
Em dias e finais de semana, ausente
Do alicerce mais íntimo das pessoas.

Têm também os outros, de cor e salto
No trabalho e na estação, na rádio
Gente que acorda depois e dorme mais
Que se esquece do dever e do direito.

Os malandros não se cansam
Tencionam, Pressionam, Ovacionam
São os bonifrates de marca maior.

Os amigos, delambidos por influência
TV, Rádio, Papo, Palanque, Digital
O diário nasceu mofado de vergonha.

A família, com seus preceitos e genealogia
Remonta a uma estirpe que não existe
E se existe, já morreu a cada nascimento.

Infamante!

Pode não ter prudência, mas procedência
Pode não ter pudor e nexo, quer sexo
Pode não ter honradez, mas dinheiro.

E vos chamam de plebe, meu Povo
De refugo da sociedade, populacho
Maldizem vosso trabalho, e estrábicos
Não vêem e maltratam vossas crianças.

Esses transviados da retidão, não serão.
São esses desventurados que maculam
Todo sentimento ulterior de felicidade.
É dia-a-dia, comunicação enviesada
Sem sentido e sem verdade, um ópio.
Às vezes é família e amigos. E nós mesmos.

E despertamos exaustos dos pesadelos
E alimentamos indigestos a fantasia
E caminhamos dissimulados pelas ruas
E percebemos enganados os detalhes
E pressentimos a enfastia das pessoas
E tememos o medo dos desafortunados
E enclausuramos despercebidos as crianças
E aniquilamos diuturnamente os sonhos
E choramos nossas lágrimas de festim
E seguimos acreditados nessa mentira

E morremos, enfim
Sem nascer.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Hino Nacional do BRASIL
Letra: Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927)
Música: Francisco Manuel da Silva (1795-1865)