quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Amor, de novo


I

há tempos venho tentando entender o amor. comecei pela consciência. eu pouco sabia o que era amor. do afeto universal de uma mãe à completa desenvoltura de casais engrandecidos. eu pensava nas pessoas, nas suas necessidades. eu imaginava como atuavam nas situações hipotéticas. eu as sentia vibrar no esmero e na tentativa não aleatória de empatia. 

II

pouco a pouco retirei paixão da lista de momentos de amor. pensar nisso me dava forças para entender seus sacrifícios e suas recompensas.

III

amor fraterno era algo natural em mim, embora tolhido ao acaso. quando antes de forma inconsciente deleitava aos prazeres do amor desinteressado, acusava agora a consciência da correlação que naturalmente faço com a admiração. Não desmembrava da mesma caixa amor e reconhecimento. a consciência desta fraternidade distinta de admiração significou para mim o limite do ego e o fim da bajulação.

IV

desafio maior tem sido receber o amor ágape em todas as suas formas. algo insistia em se manter alinhado aos feitos tangíveis. não poucas vezes confesso eu afirmar que amei lugares, bichos, pedras, árvores, muito antes de pessoas. a contemplação nascia dos fatos. e o amor, da razão. comecei então por falar com gente diferente de mim. passei a ouvir. e depois perceber. evitei subestimar a perda. aceitei luto e depressão. parei de julgar.

V

eu entendi a energia gerada na doação. amor é falta de ausência. é presença quando possível ou necessário. 

VI

da reflexão ressurgiu o amor-próprio. alicerce para a fraternidade, antítese do egoísmo. tantas e tantas vezes temos sentido brotar em nós a necessidade de olhar para si, uma negligência sabidamente implacável. tenho consciência que a capacidade de doação arrefece quando não me priorizo.

VII

acontence que é preciso saber conviver com o ódio. 

VIII

amar é cumplicidade. é precisamente, entregar-se. o tempo não tem efeito sobre o amor. o tempo gera a consciência necessária à ação. pois amar é um verbo de ação. 

Rodrigo Sluminsky

+++ Etecetera

Famous Flower of Manhattan, The Avett Brothers