I
há
tempos venho tentando entender o amor. comecei pela consciência. eu pouco sabia
o que era amor. do afeto universal de uma mãe à completa desenvoltura de casais
engrandecidos. eu pensava nas pessoas, nas suas necessidades. eu imaginava como
atuavam nas situações hipotéticas. eu as sentia vibrar no esmero e na tentativa
não aleatória de empatia.
II
pouco
a pouco retirei paixão da lista de momentos de amor. pensar nisso me dava
forças para entender seus sacrifícios e suas recompensas.
III
amor
fraterno era algo natural em mim, embora tolhido ao acaso. quando antes de
forma inconsciente deleitava aos prazeres do amor desinteressado, acusava agora
a consciência da correlação que naturalmente faço com a admiração. Não desmembrava
da mesma caixa amor e reconhecimento. a consciência desta fraternidade distinta
de admiração significou para mim o limite do ego e o fim da bajulação.
IV
desafio
maior tem sido receber o amor ágape em todas as suas formas. algo insistia em
se manter alinhado aos feitos tangíveis. não poucas vezes confesso eu afirmar
que amei lugares, bichos, pedras, árvores, muito antes de pessoas. a
contemplação nascia dos fatos. e o amor, da razão. comecei então por falar com
gente diferente de mim. passei a ouvir. e depois perceber. evitei subestimar a
perda. aceitei luto e depressão. parei de julgar.
V
eu
entendi a energia gerada na doação. amor é falta de ausência. é presença quando
possível ou necessário.
VI
da
reflexão ressurgiu o amor-próprio. alicerce para a fraternidade, antítese do
egoísmo. tantas e tantas vezes temos sentido brotar em nós a necessidade de
olhar para si, uma negligência sabidamente implacável. tenho consciência que a
capacidade de doação arrefece quando não me priorizo.
VII
acontence
que é preciso saber conviver com o ódio.
VIII
amar
é cumplicidade. é precisamente, entregar-se. o tempo não tem efeito sobre o
amor. o tempo gera a consciência necessária à ação. pois amar é um verbo de
ação.
Rodrigo Sluminsky
+++ Etecetera
Famous Flower of Manhattan, The Avett Brothers