nem todo dia: é dia.
tem dia que nem nasceu
dia sem razão
dia sem alma
que tem o dia?
antes de mais nada
manhã de lua cheia
siesta de perder hora
uma tarde vadia
mas nem tudo
cabe no dia
noite mal dormida
fadiga mental
até dor de barriga
ter tudo num dia?
quase loteria!
então que faz o dia
senão memórias
bem-vividas, ou
angústia sofrida?
dia pode ser
acordar bem e
dormir acabado
dia pode ter
muito mais do que
vinte e quatro horas
dia tem nome dia tem memória dia tem sentimento
mas sei não se dia
é mesmo medida
se é bom, ruim ou sei-lá-o-quê
mas algo inebria
quase todo dia
é que todo dia
acontece uma
grande magia
os olhos se abrem
o corpo se afaga
lá fora, literalmente
um universo servil
milhares e milhares
de novas tentativas
aqui dentro, só uma
a mais nobre delas
quando não: uma
derradeira opção
é chegada a hora
de fazer a vida toda
caber em um só dia
você pode escolher
manter a alma vazia
mas não há que negar
que nasce, no novo dia
mesmo com resquício
de cicatriz tardia
a mais bela de todas
da pureza da gratidão
ao ocaso do futuro
uma confiança inabalável
no amor
na estética do amor
naquilo que Kairós
nos qualifica
tempo de nascer
tempo de morrer
então se cabe no dia?
a vida será sempre
essa nossa eterna
e difícil escolha.
Rodrigo Sluminsky