segunda-feira, 5 de julho de 2004

Dias atrás, ouviu-se uma história de um jovem que se suicidara em uma cidadezinha nos Andes chamada Cerro de Pasco. Segundo relatos, tal garoto chegara de longe, muito longe, ainda que não se soubesse donde, e naquela fria noite de inverno fora se aquecer em um dos estabelecimentos apropriados da cidade. Entrara no bar com passos de forasteiro, mas com um olhar aquém da realidade outrora imaginada. Sentara numa das únicas três banquetas disponíveis. Ao seu lado, o fidalgo não espera segundos para perguntar-lhe:
- O garoto tem nome?
- Tive, mas perdi-o com o tempo. Aliás, tinha nome e sobrenome, palavras e consciência. Tive rumo, flores e propósito. Hoje, tenho a mim, e é o que me basta!
- Pode até ser verdade que não traz consigo a aflição pretérita, mas este lugar não lhe espera e não lhe acolhe! Sugiro que desbanque seus culhões e encontre um lugar seguro para sua melancolia.
- Cá estou, cá não quis estar. Simplesmente acompanhei minhas pernas!
- E sugiro também que não ande como se não quisesse chegar a lugar nenhum!

O garoto então, humildemente, levantara-se da banqueta alheia e rumara em direção à porta. Foi encontrado morto dias depois, com pés e mãos congelados, sorriso nos lábios e uma mensagem no peito: cheguei o mais longe que pude, para não ficar parado!
Matou-se, enfim, para deixar na memória dos que ficaram o escárnio pelo apriorismo!

Rodrigo Sluminsky


"(...) não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve."
William Shakespeare


+++ Etecetera

Matt's Journal (Travelling photos)

Free as a bird, the Beatles

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