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Para sempre Solidão

Como te não poderia eu
Pensar, Amar, Idolatrar,
igual quando tu dizias
que eras ainda subliminar?

Naqueles tempos
de profunda auto-compreensão
entendia, claramente,
que não tinha par nisso tudo,

como se o mundo girasse,
e sem perceber -
ou quando percebia
:digeria, chorando -

pensando não saber o que pensava
e que realmente girava
sem entender nadinha
do que sentias.

E que razão terias tu
que não mais pensas: Amas,
e que nada tens a idolatrar?

Como te não poderia dizer eu
que o mundo gira
e continuará
girando e girando e girando?

Para a terra do Seu-Nunca
de coração pobre
e andar esvaziado...

Mas tu, celeste,
continuarás na doçura
de girar os movimentos lunares
e de ser algo singular.

Do quê para quem?
Pés que não alcançam o chão,
que levitam a alma
em sinfonia puritana.

Deixar-me-ias tu
o vento levar?
pr'onde o simpósio
dos poetas fascinados
clama pela minha ausência;
pr'onde me chamam
"Vinde, sem-nome!"

ó espírito libertador dos deuses
misericordiar-me-ias tu
de paladar saboroso
insípido, teimoso?

Quero poder também
ser
sem querer
poder
permitir-me-ias tu?

Voar o vôo das andorinhas
sem obrigação
de cantar ao vento
toadas de emoção

dizer ao mundo
em tons de negação
que daqui pra frente
tudo é simulação!

Aceitarias tu
viver a Vida em mentiras hipócritas
Sentir que Pensas
que Amas e Idolatras
à melhor escrita
cuneiforme e maiúscula?
Como se tu me estivesses gritando:
EU EXISTO!

E para quê tamanha pretensão
se bastas tu em ti mesma
e nem precisas de poesia
para te auto-compreender!

E se é que tenho escolhas
prefiro mesmo continuar
a girar
meus círculos viciosos
de sentimentos intactos
perecíveis em si mesmos

mas que girando -
e girando e girando e girando -
carregam-me à felicidade
de perceber, quiçá
eu esqueça os motivos
pelos quais
tu me trouxestes à redenção
de viver a infâmia
da minha autêntica solidão!


Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Revista Recrie - Arte e Ciência
:Revista Crítica Estudantil da Universidade Federal de Santa Catarina

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