domingo, 15 de abril de 2007

Casa de Papel

Ai, casa de papel verde-musgo,
cheia de esmeraldas pardas e
exatas, leva teu encosto para o
mundo deste tosco, esfrega-lhe
o tapete nesse engodo louco, de
cheirinho novo, tudo simétrico e
translúcido, imerso nas linhas
geométricas do crepúsculo, dia
em seu termo final, assassinato
de raios solares, pôr-do-sol sem
condizer à universalidade nem
denominado pela raiz da palavra.

Ai, casa de papel cheia de gente
imaginária, sem janelas, portas ou
privada, sem teto pra esconder
nem paredes pra separar, locais
pra defecar, piscinas pra pular,
ergue-lhes um mundo novo com
idéias e princípios, começo de um
novo hospício, ataca-lhes a praga
e empurra ao precipício tudo o que
me disse anteontem, que não tinha
esquecido de lembrar para sempre
onde na casa de papel está o sol.

Ai, casa de papel que se derrete
em gotas de sorvete de paçoca,
quero ser da roça e meus pés o
chão tocar, me lambuzar imerso
em jabuticabas maduras e lama
até os joelhos, eternamente sujo
de coisas limpas, para quando eu
olhar no espelho ser de novo uma
criança pura, longe da censura de
olhares cristãos e pudorosos, iguais
ao nosso coração, empanturrado de
carinho fértil e carentes de emoção.

Ai, casa de papel mais bonita do

mundo, se fosse um moribundo não
me mudava hoje pra essa casa de
idéias holísticas, atéias, anárquicas,
espaço novo da utopia revolucionária
em lindos versos coloridos e sinfonia

musical e quadros de Picasso, dona
de lágrimas insípidas e abundantes
derramadas por formosas sereias nuas
e pensantes, num universo singular e
delirante, que cospe na alma prudente
para se tornar seu mais lindo amante.

Rodrigo Sluminsky




+++ Etecetera

A Canção da Vida, Mário Quintana

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