terça-feira, 1 de agosto de 2023

Todo dia é dia

nem todo dia: é dia.

tem dia que nem nasceu
dia sem razão 
dia sem alma

que tem o dia?

antes de mais nada
manhã de lua cheia
siesta de perder hora 
uma tarde vadia 

mas nem tudo 
cabe no dia 

noite mal dormida 
fadiga mental 
até dor de barriga 

ter tudo num dia?
quase loteria!

então que faz o dia 
senão memórias
bem-vividas, ou 
angústia sofrida?

dia pode ser
acordar bem e 
dormir acabado 

dia pode ter 
muito mais do que 
vinte e quatro horas

dia tem nome dia tem memória dia tem sentimento 
mas sei não se dia
é mesmo medida 
se é bom, ruim ou sei-lá-o-quê 

mas algo inebria
quase todo dia 

é que todo dia 
acontece uma
grande magia 

os olhos se abrem 
o corpo se afaga 

lá fora, literalmente 
um universo servil 
milhares e milhares 
de novas tentativas 

aqui dentro, só uma 
a mais nobre delas 
quando não: uma
derradeira opção 

é chegada a hora
de fazer a vida toda 
caber em um só dia 

você pode escolher 
manter a alma vazia 
mas não há que negar 

que nasce, no novo dia 
mesmo com resquício 
de cicatriz tardia 

a mais bela de todas 
da pureza da gratidão 
ao ocaso do futuro 

uma confiança inabalável 
no amor 
na estética do amor 
naquilo que Kairós 
nos qualifica 

tempo de nascer
tempo de morrer 

então se cabe no dia?

a vida será sempre 
essa nossa eterna 
e difícil escolha. 

Rodrigo Sluminsky 


sexta-feira, 7 de julho de 2023

Nossa (nova) jornada

Por mais energia 
Que dedicaremos 
Ao que se avizinha  

Sujeitos com certeza 
sempre estaremos 
Ao aleatório do dia 

Das inconstâncias 
Na jornada da vida 
Aos ocasos do desejo 

Um tempo sem medo
Por nossa sobrevida 
Sob novas instâncias 

Mais vale uma vida
Imersa nas batalhas 
Que um eterno hiato 
Escravo da solidão 

Rodrigo Sluminsky 

sábado, 10 de junho de 2023

Memória aos 40

O que eu percebi 
Da vida
É que a vida
Essa mesmo
É muito
Mais muito
Muito demais 
Pessoas livres
Pessoas não livres
Essa consciência dói 
Dói muito 
Pessoas livres 
Só isso
Nada mais 

Rodrigo Sluminsky 


domingo, 2 de abril de 2023

Assolador

Acho que a morte 

Não é o que assola

O que me assola

Cogitando melhor

É a falta de vida

Sequer pretendia

Essa consideração

É que se anda 

Contando passos

Evitando sorrisos

Nem bem sei 

Se é cansaço

Preguiça, asco

Pouco importa

Uma vida vadia

Vai que se nota

Tem seu espaço

O tempo vencido

Conversa mole

Um marcapasso

Coisas desse tipo

Transformam a vida

No prólogo da morte

Mais do que a dor

O luto e a memória

É a privação do tempo

Da vida e das pessoas

Da cor e do cheiro do mar

Das noites enluaradas

Dos dias de sol no inverno

Pior do que morrer

Digo eu, convicto

Apesar do leito da morte

É deixar de viver

Isso sim é assolador

 

R.Sluminsky