segunda-feira, 27 de março de 2006

Ser Humano

Sou distinto,
leve, esquisito,
de pensar efêmero,
humor passageiro.

Eu sou não o que quero,
deveras o que penso;
sou o que sou,
não o que devia sê-lo.

Não sou comum,
embora devesse;
não sou regular,
embora quisesse.

Sou cara de idéias emprestadas,
de princípios misturados,
analizados, renovados,
de padrão singular.

Minha distinção
não está na nobreza,
mas na beleza
do coração.

Meu descaso
não é com a luxúria,
mas com a ternura
em escassez.

Por isso,
choro sem lágrimas,
sorrio sem lábios,
beijo sem língua.

E não sou assim porque quero,
eu sou, e não há nada
que o mundo possa fazer
para mudar-me.

Na verdade,
o mundo é que devia
ser mudado
por mim.


Mas o problema do meu agir
é o descomunal anseio
de tornar o comum
incomum,

a vontade incessante
de fazer coisas simples
da maneira mais complicada
possível.

Isso sim é distinção,
não aquilo
que dizem
na televisão,

não aquilo que ouço
nos bares
lá da cidade
:fundo do poço!

Diferente de igual,
diverso da mesmice,
dissemelhante
dos nossos semelhantes.

Quais razões então
nos permitem destoar?
Quem tem culpa em não
nos deixar amar?

Há respostas
para muitas perguntas,
mas para essas
não há resposta alguma.

Ser humano não é simples,
olhar, tocar, sentir,
mas quem busca a simplicidade
nesta terra de gigantes?

Ao menos
continuarei sendo
a cortesia
que penso ter,

um duplo ser guardado,
como diria o Poeta,
por trás do qual
a flor nativa roça.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Programa Ensaio Tv Cultura - Elis Regina Mpb Especial (1973)

O bêbado e o equilibrista (João Bosco), na voz de Elis Regina

quarta-feira, 15 de março de 2006

Inconsciente

Sou duro:
desmistificado pela dor,
não musicalizado em dramas,
arrogante, crasso.

Nasci em berço farpado
e não percebo lágrimas!

Quis de mim o que
nem pensei;
fiz o que
não devia.

E vivo em farpas,
precursoras de tais lágrimas,
que quando caem
viram música em meu coração.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Inconsciência, por Sigmund Freud (1856-1939): conjunto de processos e factos psíquicos que são exteriores ao âmbito da consciência e impossíveis de trazer à memória, mas que podem manifestar-se nos sonhos, em estados depressivos e neuróticos, ou seja, em geral, quando a consciência não está desperta.

Reportagem: A influência de Freud na cultura brasileira

sexta-feira, 10 de março de 2006

Hinocência

Escrevo no caderninho
as palavras que não possuo
e deixo no escaninho
o amor que não conduzo.

O cheiro de mato,
o pasto aquém do portão,
fazem-me gaiato
das coisas do coração.

E se disso me desfaço
- cancioneiro em disparada -
sei que o que traço
não me levam de volta à estrada!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

http://www.tvcultura.com.br/provocacoes/