sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

A Flecha e a Estrela

Um coração ferido tem sempre
uma flecha e uma estrela no coração.

A flecha tem nome,
estado civil, sobrenome,
endereço certo
e profissão.

A estrela tem tudo isso,
mas só vêem seu codinome
e que perdeu
a razão.

A flecha é soberana,
manda e
desmanda
no coração.

A estrela é solitária,
vive a
divertir
o tabelião.

A flecha machuca por fora.
Num movimento rude,
transforma coronárias
em sangue.

A estrela machuca por dentro.
Assola veias e artérias e
nervos sem derramar
uma gota sequer.

A flecha não depende da estrela para agir.
Por si mesma invade espaço alheio -
assalta terços, princípios, máculas
- a machucar.

A estrela depende da flecha para brilhar.
Por si só não consegue arrogar-se
afável, quista, querida e desejada
para cotejar.

A flecha e a estrela interagem.
A reinar no céu de paixões,
a estrela sorrateiramente sucumbe
e dá azo à devassidão da flecha.

Quisera alguém existir somente estrelas,
mas sempre haverá flechas,
implacáveis e desumanas,
dispostas ao nosso alento desanimar.

Então, de nada adiantará cultivar somente estrelas,
lânguidas e vulneráveis, porque
as flechas se impõem, humilham
nosso capricho de amar e de ser amado.

Temos que cultivá-las, certamente,
hoje e para todo sempre,
mas temos também que combater as flechas,
essas mesmas, acostumadas a machucar.

Lutar e lutar e lutar contra flechas
é mais que necessário a todos aqueles
que desejam manter suas estrelas brilhando;
é uma ordem, categórica.

Porque quanto mais alvos as flechas acertarem,
menos estrelas no céu, tão lindo e belo
que seria injusto e muito triste não mais existir,
todos os dias, dentro do nosso coração.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry

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