Aos que desejam a morte escarlate a qualquer custo
lamento afirmar que minha poesia tem o viés negativo
em favor dos prazeres da própria carne e da heresia.
Toda vez que percebo a vitória do grotesco, do descortês,
trago imediatamente à mão todas as minhas esferográficas
e reescrevo de modo diverso o mesmo poema de ontem.
Tal qual uma epopéia reacionária ou uma cruzada sem deus,
porém redigida em forma de movimentos em uma sinfonia.
Altercamo-nos hoje e a cada novo dia contra a
proliferação gratuita do feio, do hermeticamente horrendo,
contra aquilo que causa desconforto interno quando em
nosso âmago percebemos por sentidos o desastre.
Aos que desejam a funesta infelicidade dos mortais,
prezamos por esse combate deveras vezes ideológico,
porém reconfortante como fardos de algodão em rama
simetricamente dispostos em forma de salvaguarda,
para salvar-nos da maior queda: a nossa própria.
Sim, porque o feio somos nós mesmos quando nos vemos
no espelho da realidade, aplicamos nossos feios princípios
às nossas fraquezas, ou quando não sabemos perdoar.
Trazer tudo e todos ao belo é a tarefa da minha poesia,
que neutraliza reles sons e luzes, muito mais ruidosos
e desconformes que a harmonia do vôo do beija-flor,
ou quando comparados à cor da flor chamada margarida.
E aos que fazem das mortalhas um tenso flanco roto,
imponho minha poesia como um imperativo categórico.
Terão os bastardos que tolerar, sob minhas ordens,
a harmoniosa canção de todos os pássaros silvestres
e o luar resplandecendo brilho e vida sobre o mar.
Rodrigo Sluminsky
+++ Etecetera
Um céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas, Rubem Alves
terça-feira, 25 de setembro de 2007
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