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Tristeza Mediana Que triste é, ó lua, o sentido ordinário das coisas que pela manhã, acorda que pela tarde, a corda que pela noite, recorda Que triste é, ó lua, a preleção dos mais velhos que ontem, viveu que hoje, sobrevive que amanhã, morrerá Que triste é, ó lua, o discurso apaixonado que antes, chorava que agora, assusta que depois, ironiza Que triste é, ó lua, a poesia que fora salvação que é dúvida que será relíquia Ò, minha lua, donde estão os destemores pelo esdrúxulo que veneram a verdade que afrontam os desafios que desmascaram os fatos Leve-me, por favor, intrépida lua para onde não roubem meu amor para onde meu estômago suporte para onde não desvirtuem o simples ato de chorar Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Tarde em Itapuã, Toquinho e Vinícius de Moraes Discurso do Método, René Descartes
Tamanho do Amor Ofegante e desnorteado, nasce novamente a luz, que sem pedir licença, avigora o coração. E caviloso, percebe que o Amor é do tamanho do sonho. Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Le Nozze di Figaro, Wolfgang Amadeus Mozart Poema em Linha Reta, Fernando Pessoa
Dicotomias Dois verbos: Chorar e Sorrir. Em resposta à concórdia o Riso surge filantrópico; em resposta à discórdia o Choro põe-se egoísta. Com coração, sem coração; coração bom e coração mau, de amar ou não, de odiar ou não. E o mundo arrefece em dicotomias... Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera A Casa de Rubem Alves
Paris? Texas?! Somos magros, somos feios, somos negros. Somos brancas, somos escravas, somos mineiros. Também somos daqueles paulistas bandeirantes, triunfantes nessas florestas tropicais, que estão perecendo nos desertos imemoriais do Império Americano... Nós não somos bacanas, não somos "hermanos"; nós somos ilegais! Nossas mulheres fazem fila por subempregos, nossos filhos multiplicados criam confusões dos diabos com desejos e miscigenações. As raças puras dos velhos continentes que se cuidem com muros de vergonha, murros sem vergonha e passaportes de sangue azul. Estamos sempre em trânsito, procurando um lugar onde cair duros. E essas paisagens são bonitas de se ver em tecnicolor, mas letais nas realidades banais de nossos calores humanos! O fato é que vagamos em vagões de gado, à espera de uma esmola, um trocado, um salário ou uma vaga em Auschwitz. Escondidos nos fundos falsos dos contêineres subsidiados, somos sufocados por esses pós da China que se acumulam...
Dias atrás, ouviu-se uma história de um jovem que se suicidara em uma cidadezinha nos Andes chamada Cerro de Pasco. Segundo relatos, tal garoto chegara de longe, muito longe, ainda que não se soubesse donde, e naquela fria noite de inverno fora se aquecer em um dos estabelecimentos apropriados da cidade. Entrara no bar com passos de forasteiro, mas com um olhar aquém da realidade outrora imaginada. Sentara numa das únicas três banquetas disponíveis. Ao seu lado, o fidalgo não espera segundos para perguntar-lhe: - O garoto tem nome? - Tive, mas perdi-o com o tempo. Aliás, tinha nome e sobrenome, palavras e consciência. Tive rumo, flores e propósito. Hoje, tenho a mim, e é o que me basta! - Pode até ser verdade que não traz consigo a aflição pretérita, mas este lugar não lhe espera e não lhe acolhe! Sugiro que desbanque seus culhões e encontre um lugar seguro para sua melancolia. - Cá estou, cá não quis estar. Simplesmente acompanhei minhas pernas! - E sugiro também que não an...
Por quê? Por que nascemos para amar, se vamos morrer? Por que morrer, se amamos? Por que falta sentido ao sentido de viver, amar, morrer? Carlos Drummond de Andrade +++ Etecetera Biografia Antologia Poética, Carlos Drummond de Andrade Consolo na Praia , poema de Carlos Drummond de Andrade (na voz de Carlos Drummond de Andrade)
Devaneios Era impossível falar de amor naquele canto do coração! E quanto mais se pensava em desespero e temores, saltavam à boca as preciosas falácias apriorísticas... A Bíblia diz que é ressureição; os médicos falam em técnica; bastante gente acha que é mandinga. E não importa o tamanho do marcapasso se acabou a pilha e já não se encontram mais pilhas... Está claro que tudo isso sobrecarrega em muito os outros órgãos! O pulmão está gelado, a boca seca, o fígado dói... O pé não tem mais solado, pois é preciso fugir, procurar o bulbo. Desequilibrado, busca o equilíbrio, com os pés descalços, sem solado. Sente ainda que tem sentido alguns sentidos. Falsos devaneios de domingos à noite... A engrenagem está mais próxima que seus olhos míopes vêem. Muita gente precisa deste velho coração, de sangue novo. Tem gente que sente o que o coração de sangue novo sente! E choram porque não conseguem... Com razão, absolutamente! É muito estranho sentir o que o outro está sentindo, e não saber que o ...