terça-feira, 27 de janeiro de 2004

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles


Talvez alguém aqui leia a coluna semanal da Martha Medeiros (http://almas.terra.com.br/). Não, não peguei lá esta poesia da Cecília. Simplesmente reconheci certa semelhança entre os dois textos. A interpretação desta obra poética continuará à deriva, eterna, intocável! O texto da Martha é sim mais simples, porém não perde seu mérito. A idéia essencial poderia ser resumida naquele célebre aforismo: "Nada dura para sempre!". O paradoxo é fascinante, como se fossem pular de um precipício e desligar a gravidade ao mesmo tempo! Não podemos de maneira alguma esquecer de nada, principalmente que devemos nos esquecer! Chega a ser patético, não chega?
Viver incansavelmente atrás dos píncaros da vitória e renunciá-los com o triunfo. Para onde então, José?
Não defendo nem Calvino nem Bob Marley! Também não acho que estou sendo morno, digno da anabolia bíblica! Acredito sinceramente no poder do trabalho e do esforço individual como garantias para uma vida decente, mas não sei porque não viver ao mesmo tempo! Ociosidade não é um substantivo difícil de ser detectado, mas o julgamento precoce de situações determinadas pode ser irreversível!
Viver é a melhor saída e, de preferência, sem pensar em como vamos morrer!

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