quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

Soneto da Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Moraes


Já me cansei de você, Vinícius!
Para quê exaltar (e de uma forma tão incontestável) a beleza e a necessidade antilógicas do amor para o desenvolvimento da humanidade? Escárnio para conosco, mortais?
Você diz sem pudor que a tristeza é consequência ignóbil da saudade, perfeitamente contornável.
Ah, Vinícius, será mesmo que essa mulher cheia de perdão existe?
Ira, incontrolável ira! Impossibilidade terrena de aceitar o inaceitável!
Soluços e espasmos, e vice-versa!
"Dor (...) De querer quem não vem (...) De viver sem seu bem (...) Que perdoa ninguém (...) Tão triste dor"
Não sei mais porque perco meu tempo com você, Vinícius! Totalmente ininteligível, igual a mim...
Mas Poeta, os adversos se atraem, não os harmônicos! Os afins não, Poeta!
Queria vivê-lo em cada ínfimo ensejo, asseguro-lhe. Simplesmente pelo prazer divino que era sentir a aurora em meu peito, e perceber que havia (ah, e havia mesmo...) a mutualidade.
Nada metafísico perdura mais do que o ridículo, vencido pela descrença e morto pelo descaso.
Não dir-me-ia você, Poeta, tais desatinos no pretérito. Jamais você, Poeta!

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