segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Conselho

Chega o dia em que a realidade vem à tona
Amargurando todos os nossos dias de ilusão.
Pensamentos recorrentes o deixaram pálido!
Agora você que decide pelo lado da coragem
E se prefere mesmo o caminho do progresso!
São pequenos passos nesta rua fria e escura,
E não seria saudável subestimar o lado do erro.
Você sabe que já ouviu diversos bons conselhos;
Você sabe que já experimentou o ócio e o amor.
Pode ser agora que o tempo finalmente chegou,
Com seus olhares sincréticos e coloridos...
Assim como um trem, que passa rápido demais,
É preciso se apressar para não perder o ponto.
Só que para não tropeçar nas próprias pernas
Uma boa dose de destruição se faz imperiosa:
Quebre rapidamente todas as portas para o vil,
Agora você escolhe entre a honra e a infâmia.
Picote com as mãos cartas de amores falidos
E as queime juntamente com o coração.
Fotos e recordações, somente as essenciais!
Amigos, só os dos dedos (inclusive dos pés).
Venda ou doe boa parte de sua biblioteca,
Mantenha livros de poesia e guias de viagens
E corte barba e cabelo de um jeito incomum!
O importante é sentir o amadurecimento
E se permitir agir sem medo do remorso...
Lembre-se que com a honra você escolhe
Ser um pássaro grande, belo e moribundo
Mas que sabe exatamente seu último ninho!
Aliás, nada disso tem a ver com sucesso,
Isto (e outras coisas) acaba sendo supérfluo.
Ao optar pelo volúvel caminho dos amantes
Você segue a mais bela trilha da felicidade,
Um percurso cheio de emoção e lágrimas
Como as que esparramam por sobre o papel...
Agora, meu caro, o futuro todo lhe pertence,
Em cada passo uma nova bela descoberta,
A cada incerteza uma nova sorrateira paixão.
E tudo sempre vertiginosamente intenso,
E tudo apaixonado e tão cheio de emoção,
Que deixará no peito dos que o viram passar
Um buraco imensurável e formoso de saudade
E um vazio intransponível pelo esquecimento
Que nem mesmo a certeza da existência latente
Fará o mundo girar do mesmo modo que outrora.

Rodrigo Sluminsky




+++ Etecetera

E agora, José?, Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

nostalgia. disse...

Boa hora de escrever.