Vez por outra nos percebemos inseguros,
tristes em não poder mudar um passado
desastrado, paralisados em mente e alma
e imersos numa devassidão permanente.
Consideramo-nos parte de um lixo fétido
e podre, incapazes de impedir sobrestar
o ritmo espontâneo de desenvolvimento
das habilidades mentais do ser humano.
Sim, somos a multiplicação de conceitos
e aforismos desassociados da realidade
romântica criada por nossos antepassados
e por nós aniquilada, como nuvem cósmica.
Somos também desavergonhados e feios,
quando nem nossa reputação poupamos de
enxovalhos desproporcionais à veracidade
outrora substancial, não exatamente agora.
Sobretudo, somos mesquinhos e ignorantes em
tratarmos o que de fato existe numa ilusão
constante e preponderante, sem dar azo à
verdade substancial que não nos rodeia.
Tratamos como bom aquilo que nos apetece
e como mau aquilo que nos ojeriza, ao passo
que não nos acontece saber o que agrada a
quem não nos conhece, ou quem não sabemos.
Delimitamos nosso pensar por linhas tortuosas e
sem fundamento social, distorcendo a verdade
e trazendo para nós a comoção moral de deuses
surreais de relação pérfida para com os mortais.
Brindemos as crianças e adultos espontâneos,
de paladar sincero e palavreado universal.
Esqueçamos os homens de meias-palavras que
escondem a vida em suspensórios antiquados.
Brindemos o luar eternizado por reais juras de
amor que jamais serão extraviadas ao limbo
de não mais querer aqueles que não têm mais.
Não brindemos a Pátria ou suas instituições.
Tratemos de valorizar o que de fato pode existir
ou existe, longe ou não dos olhos, perto ou não
do coração, para que não retardemos a sensação,
por culpa ou não, de livremente fugir deste lugar.
Não os enfrentemos por migalhas de sentimentos
pulverizados em pseudo-monopólios, que brindam
- esses sim - a hipocrisia d'uma serventia insalubre.
Sejamos nós noutros mesmos, eterna contemplação.
Para que saibam que nossa existência está muito
além desses imensos muros altos que sitiam nossa
liberdade: estamos e aqui vivemos atrás daquilo que
persiste, numa existência latente, robusta e infinita.
Rodrigo Sluminsky
+++ Etecetera
Clube da Lua (Luna de Avellaneda)
Argentina-Espanha, 2004
Direção: Juan José Campanella
domingo, 28 de janeiro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
chegando em casa vou ler todinho.
é esse, né?
Postar um comentário