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Ser Humano

Sou distinto, leve, esquisito, de pensar efêmero, humor passageiro. Eu sou não o que quero, deveras o que penso; sou o que sou, não o que devia sê-lo. Não sou comum, embora devesse; não sou regular, embora quisesse. Sou cara de idéias emprestadas, de princípios misturados, analizados, renovados, de padrão singular. Minha distinção não está na nobreza, mas na beleza do coração. Meu descaso não é com a luxúria, mas com a ternura em escassez. Por isso, choro sem lágrimas, sorrio sem lábios, beijo sem língua. E não sou assim porque quero, eu sou, e não há nada que o mundo possa fazer para mudar-me. Na verdade, o mundo é que devia ser mudado por mim. Mas o problema do meu agir é o descomunal anseio de tornar o comum incomum, a vontade incessante de fazer coisas simples da maneira mais complicada possível. Iss o sim é distinção, não aquilo que dizem na televisão, não aquilo que ouço nos bares lá da cidade :fundo do poço! Diferente de igual, diverso da mesmice, dissemelhante dos nossos semelh...

Inconsciente

Sou duro: desmistificado pela dor, não musicalizado em dramas, arrogante, crasso. Nasci em berço farpado e não percebo lágrimas! Quis de mim o que nem pensei; fiz o que não devia. E vivo em farpas, precursoras de tais lágrimas, que quando caem viram música em meu coração. Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Inconsciência , por Sigmund Freud (1856-1939): conjunto de processos e factos psíquicos que são exteriores ao âmbito da consciência e impossíveis de trazer à memória, mas que podem manifestar-se nos sonhos, em estados depressivos e neuróticos, ou seja, em geral, quando a consciência não está desperta. Reportagem: A influência de Freud na cultura brasileira

Hinocência

Escrevo no caderninho as palavras que não possuo e deixo no escaninho o amor que não conduzo. O cheiro de mato, o pasto aquém do portão, fazem-me gaiato das coisas do coração. E se disso me desfaço - cancioneiro em disparada - sei que o que traço não me levam de volta à estrada! Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera http://www.tvcultura.com.br/provocacoes/

Imaginário

Por todos os motivos que levei anos para pensá-los Por todos os fatos que me deixaram uma vida inteira sem vivë-los Por todas as razões que censuram minha autonomia Eu continuarei sendo aquele que nunca foi de verdade. Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Vida e Obra de Jacques Lacan Take Five, George Benson

Aos que hesitam

Você diz: Nossa causa vai mal. A escuridão aumenta. As forças diminuem. Agora, depois que trabalhamos tanto tempo, Estamos em situação pior que no início. Mas o inimigo está mais forte do que nunca. Sua força parece ter crescido. Ficou com aparência de invencível. Mas nós cometemos erros, não há como negar. Nosso número se reduz. Nossas palavras de ordem estão em desordem. O inimigo distorceu muitas de nossas palavras, até ficarem irreconhecíveis. Daquilo que dissemos, o que agora é falso: tudo ou alguma coisa? Com quem contamos ainda? Somos o que restou, Lançados fora da corrente viva? Ficaremos para trás, por ninguém compreendidos e a ninguém compreendendo? Precisamos ter sorte? Isto você pergunta. Não espere nenhuma resposta senão a sua. Bertolt Brecht +++ Etecetera Antologia Poética de Bertolt Brecht Bertold Brecht (1898-1956)

Prefiro dizer que te amo

Qual será o derradeiro amor depois que todos amores se forem, quando não mais sentem a dor ou se importem em perdoar? Há tanto não se classifica aquilo, que é guardado em mim, escondido e mistificado, dentro do peito. Sentem o ócio de um ébrio ocupado em pensar as coisas que realmente importam, dizendo palavras não ouvidas, ouvindo palavras nunca ditas... Escolhas, Arre!, detesto-as, tanto quanto não amar meus amores ou dizer que os amo! Amo-te, sim, querida, assim como sempre te amei e sempre te desejei todinha para mim... Mesmo que os poréns insistam em censurar a pureza da nossa poligamia Ainda que tais poréns que nada esclarecem mergulham-te em iras irremediáveis e me façam no espelho cuspir! Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Itapema FM

A vida pelos olhos de quem (não) a vê

Cego eu nasci, chorando alto de madrugada depois de uma longa apartada com minha mãe toda escancarada; nasci sem saber nada desse mundo novo, sem conhecer as pessoas que me acolheriam, sem pronunciar uma só palavra de carinho, sem cabelos, sem cor, sem tato, sem poder distinguir uma pétala de rosa de um dente de alho, sem chorar por amor, sem conhecer a dor, sem pudor, ardor, temor; nasci sem mãe, sem pai, sem irmãos, sem escrúpulos de não enxergar o que não via à minha frente, sem coragem de enfrentar tudo que se passava pela minha mente. Jovem eu cresci, olhando tudo nas estradas andando torto pelas escadas beijando todas as namoradas; cresci sem saber que era órfão, sem estudo, sem religião, sem comida na boca, sem educação, sem rede para caçar borboletas, sem vara para pescar palombetas; cresci sem ódio no coração, sem anseio de vingar quem vivia de compaixão, sem capricho para matar minha constante comichão. Vidente eu morri, depois de uma noitada chorando por minha amada com minh...