terça-feira, 20 de dezembro de 2005

É o que dizem...

Dizem que há o tempo certo,
o momento determinado,
o dia especial.
Coisa de idade!

Dizem para estudar,
trabalhar, madrugar,
batalhar, correr.
É o que dizem!

Dizem também para
comer beterraba com
berinjela e
carne de panela!

Dizem ainda que
vício

é coisa do Diabo!
Jesus salva!

Dizem que pecar
é ruim
e que rezar
é bom!

Dizem que para tudo
há o certo e
há o errado.
Certo ou Errado!

Dizem para antes dizer
:
- oi!
E para depois dizer:
- tchau!

Dizem que tem
gente
que não é bem
gente.

Dizem que tem
amigo
que não é bem
amigo.

Dizem, então,
que as coisas
são assim mesmo,
complicadas!

Dizem que é normal
querer alguém

que quer
outro alguém!

Dizem que sempre acontece
ouvir um sim
que não tem muito cara de
sim!

Dizem que acontece mais
ouvir um não
que quer mesmo dizer
não!

Dizem eles,

enfim, que
tem coisas
que não se diz.


Eu não digo nada!
Sofro de alguns
preconceitos vulgares
mas pego a estrada!

Prefiro andar,
olhar,
sentir,
e pensar!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Roda Viva, Chico Buarque

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Tratado 3º sobre o Amor

Ah, l'amour...
que nos escraviza,
manda e desmanda,
que nos carrega à heresia!

Carrasco que tortura,
e nem nos avisa
do perigo da demanda
de milongar à maresia...

Oh, lágrimas sem cor,
flagrantes na derme branca e lisa,
derradeiras da dor
quando alguém nelas pisa.

Seria uma leviana do destino,
fadada à condessa,
que sê fêmeo,
como que a monalisa!

Imensurável seria voar
ao luar de Lua cheia
e cantar na praia
toadas de areia.

Mas para tudo há o porém,
que censura o Amor
e leva pelos trilhos do trem
o tal de estúpido pudor!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Umbigo do Sonho

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Não-coisa

(...)

No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:

subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisas

em permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa ë fechada
à humana consciência.

O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.

Ferreira Gullar

Trecho do Poema "Não-coisa", extraído dos “Cadernos de Literatura Brasileira”, editados pelo Instituto Moreira Salles — São Paulo, nº 6, setembro de 1998, pág. 77.



+++ Etecetera

Releituras de Ferreira Gullar

Portal Literal

e-Poemas

sábado, 10 de dezembro de 2005

Cotidiano

Porque se pensar muito
não anda - para trás ou para frente -,
e ninguém chama isso de vida,
sem cheiro,
sem luz;
estará à frente?

De novo, sucumbir em lágrimas não resolve,
e para os quintos você também,
ócio trangênico,
que atrapalha dois terços do mundo!

Vou voar então,
para onde ninguém me veja - só os pássaros -,
ou mesmo continuarei aqui
pensando que me sentem
mesmo não me vendo...

Porque se pensar muito
não anda
e parado certamente não quero ficar!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Ressentimentos

Não vem que não tem!
Não vem de garfo que hoje é sopa!
Não vem de escada que o incêndio é no porão!
(Carlos Imperial)

Se quer um teco, peça com carinho!
Se quer de volta, ajoelhe!

Nada de cultivar flores diversas de margaridas no meu jardim!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Noites Tropicais, Nelson Motta

Carlos Eduardo Cortes Imperial
Nascimento: 24/11/1935, Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, Brasil
Falecimento: 04/11/1992, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Jornalista, comunicador e compositor radicado no RJ (1943); estréia no cinema em "Canjerê" (1957); cria o Clube do Rock (1958) e assina a coluna "O Mundo é dos Brotos" na "Revista do Rádio" (1961); funda a CIPAL (produtora de filmes) em 1974; político, é o Vereador mais votado do RJ (1984); eclético e polêmico, lança artistas como Roberto Carlos, Wilson Simonal, Gretchen etc.

Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro, Antonio Leão da Silva Neto

Dicionário de Cineastas Brasileiros, Luiz F. Miranda

segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Desafogo de espírito

Quem disse que o deserto é feito de areia? Nunca fui ao deserto, nem sei direito o que é areia! Todos os dias pensamos ir a diversos lugares, fazer diversas coisas, mas penamos com as tarefas mais simples. Fazer um bolo parece relativamente simples, mas ainda assim é necessário atitude. Assistir à televisão ou descansar em canapé não requer atitude! Porém determinados assuntos nos cativam opinião, tomada de conduta.

Depara-mo-nos também com os conceitos mais simples possíveis, que deveriam estar explícitos em nosso descrever, como que na ponta da língua. Falar de liberdade, amor, compreensão, parece-nos evidente dizer determinadas coisas, mas quando refletimos alguma coisa soa imprópria. Às vezes até nos é complicado explicar algo, quando não recorremos a aforismos. Não quer dizer que não saibamos, em hipótese, e tampouco há necessidade.

A poesia também não necessariamente precisa ser inteligível. Alto lá quando há segredos sonegados pela claridade, estritamente necessário, diga-se desta maneira. Ainda assim teremos água, terra, floresta, bastante matéria para diversificar; não conheceremos todo o possível, mas e tão somente o que nos é apresentado. Exatamente onde mora o perigo do altruísmo deturpado, da corrupção branca, da falácia.

As pessoas têm um ideal e o seguem, normalmente, mas o tortuoso caminho das pedras a ser trilhado é pesadíssimo para leigos. Facilmente nele um devoto converte-se em pagão e nem por isso titubeia. Também pseudo-sapientes neste mundo podem perder as estribeiras. No entanto, desataviadas verossimilhanças têm seu momento, atualmente. Isso porque quando pensam que pouco se é conhecido, mais sabido as coisas restam. Em outras palavras, como o conhecimento deve ser diversificado, aquilo que para os outros lhe deveria ser conhecido, para seu próprio desenvolvimento como ser humano é simples quimera que a vida proporciona. E nada do que lhe for dito balizará de forma distinta a rota do navegante sonhador em seus devaneios quase que constantes.

Por isso, pedimos aos deuses nos libertar da audácia de viver em reboliços com a mente e em fossas sentimentais com o coração. Somos mortais e por isso lhes devemos respeito, porém a deferência somente estará completa quando as lágrimas dos olhos servirem realmente para afagar a consternação!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

The Blower's Daughter, Damien Rice

domingo, 30 de outubro de 2005

Ser eu eu Ser

Se eu soubesse o que sou
e bebesse d'água dos mortais
não lhe perguntaria o que não sou;

se você me diz todas essas coisas lindas,
sei que sou algo diverso, inexacto,

que se não encontra nos jornais.

E se quando ouço sua voz temo o que sou,
é porque ainda não descobri
a obra que me traduz e a poesia
que me desmascara.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

7 Pecados Capitais

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

anti-Koyaanisqatsi

Alguém viu passar
o trem da onze de maio
e anotou a placa (do trem)?

Será que alguém percebeu
que o trem passou?

Onze de maio,
o trem passou,
será?

Por que será
que ninguém parou
o trem
que passou?

Será onze de maio
o dia do trem
passar?

Qual a placa
do trem

que passou
pela onze de maio?


Alguém sabe
por que ainda
há trens?

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

http://www.koyaanisqatsi.org/

Koyaanisqatsi (1983)
Life out of Balance (USA)
Direction: Godfrey Reggio
Writing by Ron Fricke & Michale Hoenig
Recommended by Francis Ford Coppola

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

A invisivel cicatriz

nascer
é ser novinho em folha
e já deixar cicatriz

viver
é cobrir os outros
de cicatrizes
e ser coberto

mas nem tudo
são cicatrizes

algumas incisões
definitivamente
não se fecham

por isso
aliás
morremos

Ruy Proença




+++ Etecetera

(fechado para balanço)

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Inércia de uma contemplação quotidiana

Eu gostaria de pronunciar
todas as singularidades
que me comovem
e que me fazem chorar...

Queria poder correr
contra o vento
e na mesma velocidade
fugir do movimento!

Inclusive já caí na armadilha
de andar em circulos
ohando para o passado,
ainda que caricato como o futuro!


Mas de todos meus anseios,
beijar a mão da lealdade
e estar certo da compreensão
transformaram-me em um Deus,

que percebe inveja
e que pondera a humildade,
com olhos de um coelho
e força de um leão!

Como corolário,
sou de carne e osso,
como que do cotidiano,
e metafísico no amor,

com as qualidades
de pacífico, sereno, inútil,
e de pensar as coisas
sem nada decidir!

Rodrigo Sluminsky




+++ Etecetera

http://www.aconfraria.com.br

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Lamúrias

A vida é uma cesta de mal-entendidos,
onde pousamos nossas reflexões,
atracamos nossos medos,
e destruímos nossas paixões.

Não fossem o pés,
para quem os têm,
não iríamos a lugar algum.

Deveríamos amar
em vez de lamentar,
mas preferimos cortar os pés
a deixar a cesta esvaziar.

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

www.mundocultural.com.br

quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Lisboa Revisited (1926)

Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...


Álvaro de Campos



+++ Etecetera

Fernando Pessoa e Seus Heterônimos

Links

segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Efêmera sanidade

Chore, pequena,
mas não diga a eles
que o tempo passou
e nem interveio.

Seja complacente
consigo mesma
e não os deixe saber
o outrora incompreensível.

Se preciso for
feche o olhos
e reze,
se necessário,

mas não os permita sentir
em hipótese alguma
sua insanidade
e seus gritos de dor!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Bolero, Ravel

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Para sempre Solidão

Como te não poderia eu
Pensar, Amar, Idolatrar,
igual quando tu dizias
que eras ainda subliminar?

Naqueles tempos
de profunda auto-compreensão
entendia, claramente,
que não tinha par nisso tudo,

como se o mundo girasse,
e sem perceber -
ou quando percebia
:digeria, chorando -

pensando não saber o que pensava
e que realmente girava
sem entender nadinha
do que sentias.

E que razão terias tu
que não mais pensas: Amas,
e que nada tens a idolatrar?

Como te não poderia dizer eu
que o mundo gira
e continuará
girando e girando e girando?

Para a terra do Seu-Nunca
de coração pobre
e andar esvaziado...

Mas tu, celeste,
continuarás na doçura
de girar os movimentos lunares
e de ser algo singular.

Do quê para quem?
Pés que não alcançam o chão,
que levitam a alma
em sinfonia puritana.

Deixar-me-ias tu
o vento levar?
pr'onde o simpósio
dos poetas fascinados
clama pela minha ausência;
pr'onde me chamam
"Vinde, sem-nome!"

ó espírito libertador dos deuses
misericordiar-me-ias tu
de paladar saboroso
insípido, teimoso?

Quero poder também
ser
sem querer
poder
permitir-me-ias tu?

Voar o vôo das andorinhas
sem obrigação
de cantar ao vento
toadas de emoção

dizer ao mundo
em tons de negação
que daqui pra frente
tudo é simulação!

Aceitarias tu
viver a Vida em mentiras hipócritas
Sentir que Pensas
que Amas e Idolatras
à melhor escrita
cuneiforme e maiúscula?
Como se tu me estivesses gritando:
EU EXISTO!

E para quê tamanha pretensão
se bastas tu em ti mesma
e nem precisas de poesia
para te auto-compreender!

E se é que tenho escolhas
prefiro mesmo continuar
a girar
meus círculos viciosos
de sentimentos intactos
perecíveis em si mesmos

mas que girando -
e girando e girando e girando -
carregam-me à felicidade
de perceber, quiçá
eu esqueça os motivos
pelos quais
tu me trouxestes à redenção
de viver a infâmia
da minha autêntica solidão!


Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Revista Recrie - Arte e Ciência
:Revista Crítica Estudantil da Universidade Federal de Santa Catarina

segunda-feira, 18 de julho de 2005

Simplesmente

Se me perguntam o que quero
não sei dizê-lo,
mas, constantemente,
fujo do que sei
que não quero.

Taciturno e perspicaz,
entre beijos e antolhos,
deusas e prostitutas,
metáforas e aliterações,
fantasio
pr'onde nem sei...
E é difícil explicar
o quanto isso me basta!

Sou Tudo?
Sou Nada?

Para os que me conhecem,
posso ser branco - quando claro - e negro;
posso persuadir,
amar, sorrir...
Posso matar, se irado;
posso chorar, se triste.

Para eles, posso ser aquilo que sempre sonharam,
ou que sempre repeliram.
Posso beber, fumar,
e ainda ser Tudo,
se para eles
sou o que lhes resta!

Para os que não me conhecem,
posso ser branco, negro;
posso amar e ser amado,
até idolatrado!
Ser morto e por isso chorado
Posso persuadir,
viver, sumir...
Posso ser, ou não.

Para estes, posso ser aquilo que sempre sonharam,
ou que sempre repeliram.
Posso beber, fumar,

e ainda ser Nada,
se para eles
sou o que lhes resta!

Assim, para os que me sabem
e assim o vêem,
sou o que me apresento,
o que me mostro ser,
de alma e coração lavados.

Para os que não me conhecem
e assim não o vêem,
posso ser, talvez,
mas prefiro pensar
que para os que não me sabem
eu simplesmente não existo!


Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Herói (Ying Xiong), 2002
China

Site Oficial: www.herothemovie.com
Direção: Zhang Yimou
Roteiro: Li Feng, Zhang Yimou e Wang Bin
Elenco: Jet Li (Sem Nome), Tony Leung (Espada Quebrada), Maggie Cheung (Neve Que Voa), Zhang Ziyi (Lua), Daoming Chen (Rei Qin), Donnie Yen (Céu), Zhang Yi (Guarda)

Extra, por Marcelo Costa

sexta-feira, 1 de julho de 2005

Stordito Embaralhado

Disse que era o que não é, faz o que não diz e conta o que não fez. Manda onde não pode, fala quando não deve, teme quando encara. Xinga quando é amor, toma quando é sólido e beija sem sabor. Limpa a bunda com o editorial, faz mimetismo de HQ e é viciado em horóscopo. Escreve o que vem na telha, cai num mar de lama e usa poesia para a casa cobrir. Cheira samambaias, joga sementes de arroz para o alto e come pétalas de rosa. Viaja às segundas-feiras e paga a viagem com voador. Roda a bolsinha, rói as unhas do pé e entorta o aro da bicicleta. Bebe álcool de cozinha, cheira baseado e cocaína para o bolo crescer. Fala palavrões, come jerenhoque e serra pinheiros-do-Paraná. Nada borboleta, veste seda e constrói gaiolas. Ri quando se chora, canta quando silencia, breca quando a regra é andar. Caga e anda, anda e caga, urina, e vomita na geladeira. Morre de frio, vive de favor e geme de medo. Dorme de manhã, escreve poesias à tarde e trabalha pela madrugada. Desenvolve a solidão, manda à merda quem lhe cativa e diz que ama sem pudor. Refugia-se do vento, toma banho de chuva na sacada e liga o ar condicionado para esquentar. Pula cirandinha, dança bambo lê e lança corda de pular. Nota máxima no psicotécnico, número um em psicologia e desquitado. Medo de lobo-mau, luz acesa para dormir e vitamina de banana na mamadeira. Ama o que não lhe ama, odeia aquilo que lhe ama e ri quando nada e ninguém lhe convêm. Pula quando é alto, deita quando é fundo e escala quando é horizontal. Nós sempre dizemos a verdade: quem mente é o ego!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

O Senhor das Moscas, Willian Golding

Um estranho no ninho, 1975
(One Flew Over the Cuckoo's Nest)
Direção: Milos Forman
Roteiro: Bo Goldman e Lawrence Hauben, baseado em livro de Ken Kesey
Produção: Michael Douglas e Saul Zaentz
Elenco: Jack Nicholson, Louise Fletcher, Danny DeVito, William Redfield, Michael Berryman

sexta-feira, 10 de junho de 2005

Revelações

Sou um Amor apaixonado,
de andar esvaziado,
mente, e alucinado
ressentindo a vontade de voar.

Penso ser dono do mundo,
tenho comportamento imundo,
danço feito moribundo,
sonhando poder assim ficar.

Tenho vontades passageiras,
onde perdem-se estribeiras
e quebram-se cadeiras
podendo nunca mais restar.

Tento superar meu limite

de poeta com labirintite,
hepatite alcoólica, miocardite,
ouvindo que há o que curar.

Gosto mesmo de lágrima depravada,
solitária, arruinada,
ciente que fracassada,
esperando alguém a perdoar.


Prefiro a vida ordinária,
de redundância hilária,
ou de anônimo da Candelária,
porém sem titubear.

Sinto também a promiscuidade no sangue,
de pudor ignorante
e gênio arrogante,
acreditando não mais se salvar.

Posso ainda ser um marinheiro
ou até um cancioneiro,
com ou sem dinheiro,
deixando a vida me guiar.

Perdôo-me ser metafísico, então,
daqueles que não vive em tabernáculo
ou que não possui qualquer outro vínculo,
implorando à alma do mesmo modo ressuscitar!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Quase Memória, Carlos Heitor Cony

Biografia de Carlos Heitor Cony


domingo, 24 de abril de 2005

Marcha fúnebre

Tristeza sem fim
tira a mão de mim
não percebe que nós
estamos mortos há muito tempo

Gelado demais
depois de findos os carnavais
e ainda assim
brincam com nosso corpo

Chuva d'água molhada
que vem descendo a estrada
corre por todos os lados
fazendo chuá-chuá

Cama do lençol vermelho
não tem reflexo no espelho
aquele que um dia foi
e não mais pode acordar

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Manhã de Carnaval, Luiz Bonfá/Antônio Maria

Noite na Taverna, Álvares de Azevedo

quinta-feira, 7 de abril de 2005

Trote a galope que pára quando puder

"Se não pode dizer que existe algo a procurar, ainda mais nesses dias, fatigantes e supérfluos, que tardam a acabar de nascer - quando o fazem - , e pelo cansaço pôem-se a dormir, com olhos entre-cerrados, de vigília para o amanhã, sem nunca esquecer de lembrar os píncaros da derrota que os afugentara antes do amanhecer. Mas sim, o tempo se move pelas nossas mãos, sujas de brigadeiro - ou o doce feito com leite condensado - preparado de coração vazio, alguns dias atrás, e devorado até o fim, sem remorso ou compaixão. E é desse jeito que o dia nasce e continuará a nascer: imundo e sem coração!"

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

Metropolitan Museum of Art