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Mostrando postagens de 2005

É o que dizem...

Dizem que há o tempo certo, o momento determinado, o dia especial. Coisa de idade! Dizem para estudar, trabalhar, madrugar, batalhar, correr. É o que dizem! Dizem também para comer beterraba com berinjela e carne de panela! Dizem ainda que vício é coisa do Diabo! Jesus salva! Dizem que pecar é ruim e que rezar é bom! Dizem que para tudo há o certo e há o errado. Certo ou Errado! Dizem para antes dizer : - oi! E para depois dizer: - tchau! Dizem que tem gente que não é bem gente. Dizem que tem amigo que não é bem amigo. Dizem, então, que as coisas são assim mesmo, complicadas! Dizem que é normal querer alguém que quer outro alguém! Dizem que sempre acontece ouvir um sim que não tem muito cara de sim! Dizem que acontece mais ouvir um não que quer mesmo dizer não! Dizem eles, enfim, que tem coisas que não se diz. Eu não digo nada! Sofro de alguns preconceitos vulgares mas pego a estrada! Prefiro andar, olhar, sentir, e pensar! Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Roda Viva , Chico Buarque

Tratado 3º sobre o Amor

Ah, l'amour... que nos escraviza, manda e desmanda, que nos carrega à heresia! Carrasco que tortura, e nem nos avisa do perigo da demanda de milongar à maresia... Oh, lágrimas sem cor, flagrantes na derme branca e lisa, derradeiras da dor quando alguém nelas pisa. Seria uma leviana do destino, fadada à condessa, que sê fêmeo, como que a monalisa! Imensurável seria voar ao luar de Lua cheia e cantar na praia toadas de areia. Mas para tudo há o porém, que censura o Amor e leva pelos trilhos do trem o tal de estúpido pudor! Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Umbigo do Sonho

Não-coisa

(...) No entanto, o poeta desafia o impossível e tenta no poema dizer o indizível: subverte a sintaxe implode a fala, ousa incutir na linguagem densidade de coisas em permitir, porém, que perca a transparência já que a coisa ë fechada à humana consciência. O que o poeta faz mais do que mencioná-la é torná-la aparência pura — e iluminá-la. Toda coisa tem peso: uma noite em seu centro. O poema é uma coisa que não tem nada dentro, a não ser o ressoar de uma imprecisa voz que não quer se apagar — essa voz somos nós. Ferreira Gullar Trecho do Poema "Não-coisa", extraído dos “Cadernos de Literatura Brasileira”, editados pelo Instituto Moreira Salles — São Paulo, nº 6, setembro de 1998, pág. 77. +++ Etecetera Releituras de Ferreira Gullar Portal Literal e-Poemas

Cotidiano

Porque se pensar muito não anda - para trás ou para frente -, e ninguém chama isso de vida, sem cheiro, sem luz; estará à frente? De novo, sucumbir em lágrimas não resolve, e para os quintos você também, ócio trangênico, que atrapalha dois terços do mundo! Vou voar então, para onde ninguém me veja - só os pássaros -, ou mesmo continuarei aqui pensando que me sentem mesmo não me vendo... Porque se pensar muito não anda e parado certamente não quero ficar! Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Alice no País das Maravilhas , Lewis Carroll

Ressentimentos

Não vem que não tem! Não vem de garfo que hoje é sopa! Não vem de escada que o incêndio é no porão! (Carlos Imperial) Se quer um teco, peça com carinho! Se quer de volta, ajoelhe! Nada de cultivar flores diversas de margaridas no meu jardim! Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Noites Tropicais, Nelson Motta Carlos Eduardo Cortes Imperial Nascimento: 24/11/1935, Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, Brasil Falecimento: 04/11/1992, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil Jornalista, comunicador e compositor radicado no RJ (1943); estréia no cinema em "Canjerê" (1957); cria o Clube do Rock (1958) e assina a coluna "O Mundo é dos Brotos" na "Revista do Rádio" (1961); funda a CIPAL (produtora de filmes) em 1974; político, é o Vereador mais votado do RJ (1984); eclético e polêmico, lança artistas como Roberto Carlos, Wilson Simonal, Gretchen etc. Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro, Antonio Leão da Silva Neto Dicionário de Cineastas Brasileiros, Luiz F. Miranda

Desafogo de espírito

Quem disse que o deserto é feito de areia? Nunca fui ao deserto, nem sei direito o que é areia! Todos os dias pensamos ir a diversos lugares, fazer diversas coisas, mas penamos com as tarefas mais simples. Fazer um bolo parece relativamente simples, mas ainda assim é necessário atitude. Assistir à televisão ou descansar em canapé não requer atitude! Porém determinados assuntos nos cativam opinião, tomada de conduta. Depara-mo-nos também com os conceitos mais simples possíveis, que deveriam estar explícitos em nosso descrever, como que na ponta da língua. Falar de liberdade, amor, compreensão, parece-nos evidente dizer determinadas coisas, mas quando refletimos alguma coisa soa imprópria. Às vezes até nos é complicado explicar algo, quando não recorremos a aforismos. Não quer dizer que não saibamos, em hipótese, e tampouco há necessidade. A poesia também não necessariamente precisa ser inteligível. Alto lá quando há segredos sonegados pela claridade, estritamente necessário, diga-se des...

Ser eu eu Ser

Se eu soubesse o que sou e bebesse d'água dos mortais não lhe perguntaria o que não sou; se você me diz todas essas coisas lindas, sei que sou algo diverso, inexacto, que se não encontra nos jornais . E se quando ouço sua voz temo o que sou, é porque ainda não descobri a obra que me traduz e a poesia que m e desmascara. Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera 7 Pecados Capitais

anti-Koyaanisqatsi

Alguém viu passar o trem da onze de maio e anotou a placa (do trem)? Será que alguém percebeu que o trem passou? Onze de maio, o trem passou, será? Por que será que ninguém parou o trem que passou? Será onze de maio o dia do trem passar? Qual a placa do trem que passou pela onze de maio? Alguém sabe por que ainda há trens? Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera http://www.koyaanisqatsi.org/ Koyaanisqatsi (1983) Life out of Balance (USA) Direction: Godfrey Reggio Writing by Ron Fricke & Michale Hoenig Recommended by Francis Ford Coppola

A invisivel cicatriz

nascer é ser novinho em folha e já deixar cicatriz viver é cobrir os outros de cicatrizes e ser coberto mas nem tudo são cicatrizes algumas incisões definitivamente não se fecham por isso aliás morremos Ruy Proença +++ Etecetera (fechado para balanço)

Inércia de uma contemplação quotidiana

Eu gostaria de pronunciar todas as singularidades que me comovem e que me fazem chorar... Queria poder correr contra o vento e na mesma velocidade fugir do movimento! Inclusive já caí na armadilha de andar em circulos ohando para o passado, ainda que caricato como o futuro! Mas de todos meus anseios, beijar a mão da lealdade e estar certo da compreensão transformaram-me em um Deus, que percebe inveja e que pondera a humildade, com olhos de um coelho e força de um leão! Como corolário, sou de carne e osso, como que do cotidiano, e metafísico no amor, com as qualidades de pacífico, sereno, inútil, e de pensar as coisas sem nada decidir! Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera http://www.aconfraria.com.br

Lamúrias

A vida é uma cesta de mal-entendidos, onde pousamos nossas reflexões, atracamos nossos medos, e destruímos nossas paixões. Não fossem o pés, para quem os têm, não iríamos a lugar algum. Deveríamos amar em vez de lamentar, mas preferimos cortar os pés a deixar a cesta esvaziar. Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera www.mundocultural.com.br

Lisboa Revisited (1926)

Nada me prende a nada. Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo. Anseio com uma angústia de fome de carne O que não sei que seja - Definidamente pelo indefinido... Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto De quem dorme irrequieto, metade a sonhar. Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias. Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua. Não há na travessa achada o número da porta que me deram. Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido. Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota. Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados. Até a vida só desejada me farta - até essa vida... Compreendo a intervalos desconexos; Escrevo por lapsos de cansaço; E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia. Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme; Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago; ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso. Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma... E, no ...

Efêmera sanidade

Chore, pequena, mas não diga a eles que o tempo passou e nem interveio. Seja complacente consigo mesma e não os deixe saber o outrora incompreensível. Se preciso for feche o olhos e reze, se necessário, mas não os permita sentir em hipótese alguma sua insanidade e seus gritos de dor! Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Bolero , Ravel

Para sempre Solidão

Como te não poderia eu Pensar, Amar, Idolatrar, igual quando tu dizias que eras ainda subliminar? Naqueles tempos de profunda auto-compreensão entendia, claramente, que não tinha par nisso tudo, como se o mundo girasse, e sem perceber - ou quando percebia :digeria, chorando - pensando não saber o que pensava e que realmente girava sem entender nadinha do que sentias. E que razão terias tu que não mais pensas: Amas, e que nada tens a idolatrar? Como te não poderia dizer eu que o mundo gira e continuará girando e girando e girando? Para a terra do Seu-Nunca de coração pobre e andar esvaziado... Mas tu, celeste, continuarás na doçura de girar os movimentos lunares e de ser algo singular. Do quê para quem? Pés que não alcançam o chão, que levitam a alma em sinfonia puritana. Deixar-me-ias tu o vento levar? pr'onde o simpósio dos poetas fascinados clama pela minha ausência; pr'onde me chamam "Vinde, sem-nome!" ó espírito libertador dos deuses misericordiar-me-ias tu de pal...

Simplesmente

Se me perguntam o que quero não sei dizê-lo, mas, constantemente, fujo do que sei que não quero. Taciturno e perspicaz, entre beijos e antolhos, deusas e prostitutas, metáforas e aliterações, fantasio pr'onde nem sei... E é difícil explicar o quanto isso me basta! Sou Tudo? Sou Nada? Para os que me conhecem, posso ser branco - quando claro - e negro; posso persuadir, amar, sorrir... Posso matar, se irado; posso chorar, se triste. Para eles, posso ser aquilo que sempre sonharam, ou que sempre repeliram. Posso beber, fumar, e ainda ser Tudo, se para eles sou o que lhes resta! Para os que não me conhecem, posso ser branco, negro; posso amar e ser amado, até idolatrado! Ser morto e por isso chorado Posso persuadir, viver, sumir... Posso ser, ou não. Para estes, posso ser aquilo que sempre sonharam, ou que sempre repeliram. Posso beber, fumar, e ainda ser Nada, se para eles sou o que lhes resta! Assim, para os que me sabem e assim o vêem, sou o que me apresento, o que me mostro ser, de ...
Stordito Embaralhado Disse que era o que não é, faz o que não diz e conta o que não fez. Manda onde não pode, fala quando não deve, teme quando encara. Xinga quando é amor, toma quando é sólido e beija sem sabor. Limpa a bunda com o editorial, faz mimetismo de HQ e é viciado em horóscopo. Escreve o que vem na telha, cai num mar de lama e usa poesia para a casa cobrir. Cheira samambaias, joga sementes de arroz para o alto e come pétalas de rosa. Viaja às segundas-feiras e paga a viagem com voador. Roda a bolsinha, rói as unhas do pé e entorta o aro da bicicleta. Bebe álcool de cozinha, cheira baseado e cocaína para o bolo crescer. Fala palavrões, come jerenhoque e serra pinheiros-do-Paraná. Nada borboleta, veste seda e constrói gaiolas. Ri quando se chora, canta quando silencia, breca quando a regra é andar. Caga e anda, anda e caga, urina, e vomita na geladeira. Morre de frio, vive de favor e geme de medo. Dorme de manhã, escreve poesias à tarde e trabalha pela madrugada. Desenvolve a...
Revelações Sou um Amor apaixonado, de andar esvaziado, mente, e alucinado ressentindo a vontade de voar. Penso ser dono do mundo, tenho comportamento imundo, danço feito moribundo, sonhando poder assim ficar. Tenho vontades passageiras, onde perdem-se estribeiras e quebram-se cadeiras podendo nunca mais restar. Tento superar meu limite de poeta com labirintite, hepatite alcoólica, miocardite, ouvindo que há o que curar. Gosto mesmo de lágrima depravada, solitária, arruinada, ciente que fracassada, esperando alguém a perdoar. Prefiro a vida ordinária, de redundância hilária, ou de anônimo da Candelária, porém sem titubear. Sinto também a promiscuidade no sangue, de pudor ignorante e gênio arrogante, acreditando não mais se salvar. Posso ainda ser um marinheiro ou até um cancioneiro, com ou sem dinheiro, deixando a vida me guiar. Perdôo-me ser metafísico, então, daqueles que não vive em tabernáculo ou que não possui qualquer outro vínculo, implorando à alma do mesmo modo ressuscitar! Rod...
Marcha fúnebre Tristeza sem fim tira a mão de mim não percebe que nós estamos mortos há muito tempo Gelado demais depois de findos os carnavais e ainda assim brincam com nosso corpo Chuva d'água molhada que vem descendo a estrada corre por todos os lados fazendo chuá-chuá Cama do lençol vermelho não tem reflexo no espelho aquele que um dia foi e não mais pode acordar Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Manhã de Carnaval, Luiz Bonfá/Antônio Maria Noite na Taverna, Álvares de Azevedo
Trote a galope que pára quando puder "Se não pode dizer que existe algo a procurar, ainda mais nesses dias, fatigantes e supérfluos, que tardam a acabar de nascer - quando o fazem - , e pelo cansaço pôem-se a dormir, com olhos entre-cerrados, de vigília para o amanhã, sem nunca esquecer de lembrar os píncaros da derrota que os afugentara antes do amanhecer. Mas sim, o tempo se move pelas nossas mãos, sujas de brigadeiro - ou o doce feito com leite condensado - preparado de coração vazio, alguns dias atrás, e devorado até o fim, sem remorso ou compaixão. E é desse jeito que o dia nasce e continuará a nascer: imundo e sem coração!" Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Metropolitan Museum of Art