sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

Já notaram como nossa vida está cada vez mais fútil, mais difícil de ser carregada? Notaram como a inversão de valores é cada vez mais constante na rotina que nos acompanha?
Ultimamente tenho procurado uma maneira de escapar da fragilidade que nos incomoda nos momentos de crise de consciência, devido à possibilidade de um futuro incerto. Não sei ao certo se definir uma meta é realmente eficaz. No entanto, percebi que em todos esses momentos contínuos de insensatez ludibriante havia um certo alguém que olhava teus passos e te colocava nos trilhos novamente. Também não há necessariamente de ser uma pessoa (ou várias). Mas falo hoje especialmente de pessoas.
Já nos demos conta da importância de cultivarmos amizades consistentes durante todo nosso processo de desenvolvimento, sobretudo de formação de caráter?
A amizade é formada sem explicações lógicas. Todos os dias nos deparamos com alguém que possui as características exatas da pessoa que poderia ser o nosso melhor amigo, não significando necessariamente que a reciprocidade acontecerá. Diz o filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson(1803-1882): "A amizade requer aquele raro ponto médio entre a semelhança e a diferença". Deste modo, amigo é aquele que apresenta o conflito sem possibilidade de ruptura. Fala-se o que não se quer ouvir e mesmo assim não há problema. No final todos sabem que ser amigo é ser bom para alguém sem querer nada em troca.
Uma amizade de longa data requer muita maturidade, resumida na capacidade de reconhecer os próprios limites e saber onde procurar o que falta. A possibilidade de superar as mágoas é também um imensurável pressuposto de amizades duradouras. O tempo é uma contigência. Não afasta, apenas adia!

"Tomzinho querido: Estou aqui num quarto de hotel que dá para uma praça que dá para toda a solidão do mundo. São dez horas da noite e não se vê viv'alma. Meu navio só sai de amanhã à tarde e é impossível alguém estar mais triste do que eu. E, como sempre nestas horas, escrevo para você cartas que nunca mando"

Trecho de carta de Vinícius de Moraes (1913-1980), de 07 de setembro de 1964, para Antônio Carlos Jobim (1927-1994)



+++ Etecetera

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Carta ao Tom, Vinícius de Moraes

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