quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

Lógica ilógica

Acho interessante como as coisas seguem a lógica. Muito idiota pensar assim, mas é o que acontece. Por exemplo, um amigo meu questionou, entre outras coisas, o porquê de os azulejos estarem simétricamente bem dispostos, tendendo à perfeição, a olho nu, ao menos. Diz ele, e eu até concordo, que é muito simples enganar nosso cérebro. As coisas mais fúteis nos chamam a atenção de uma maneira inversamente proporcional à nossa capacidade intelectual. Ou vocês nunca viram um homem, heterosexual e viril, apreciando páginas de "pornografia artística"? Mesmo os cientistas mais bem conceituados para discorrer sobre a matéria perdem-se no ilusionismo.
Quero dizer com tudo isso que não há lógica! Tudo é crença! Ah, céticos de plantão, dir-me-iam vocês que é comprovadamente comprovado (segundo as regras de redundância pleonasmáticas) que o homem foi à lua em 1969, ou que Platão era uma bicha inrustida, ou que Jesus não era o filho mais novo de Maria, ou ainda qualquer outra coisa do gênero.
- E-vo-lu-ci-o-nis-mo! - diriam. Pois eu digo que se o átomo era uma estrutura maciça ontem e hoje é um conglomerado de prótons, nêutrons et coetera, por que amanhã ele pode nem existir? Na Física Quântica já é mais que superada aquela máxima de que "nada se cria, tudo se transforma". O nome hoje é Energia (poderia ser "breguenete"). Vocês entendem o que quero dizer?
Escolha um caminho: Crédulos quanto ao Fantástico ou Céticos quanto ao Óbvio? A ou B? Acho que de jeito nenhum isso entra no rol dos temas coerentes da Idade Contemporânea. Porque ciência pode ser comprovada, mas somente para aqueles que acreditam nela, ou para aqueles que partem de um dogma, de uma premissa anteriormente colocada, de modo que há facilmente a formação de um silogismo: Premissa maior + Premissa menor = Conclusão. Por exemplo: Todos que tirarem sete na prova de Aritmética não precisarão fazer exame (Premissa maior); Joãozinho tirou sete na prova de Aritmética (Premissa menor); Portanto, Joãozinho não precisará fazer exame (Conclusão). Claro que este é um silogismo trés simple, só que em essência a Ciência se baseia nisso. Pode até ser empiricamente comprovadíssimo tudo que se evoluiu, mas na base de sustentação a própria Ciência é crença. E crença não se discute, se respeita!
Há um porém, no entanto. Não sei se acredito (crença) em tudo que escrevi agora. A Ciência tem nos ajudado muito a superar males simplórios, por exemplo, como a varíola e a gripe. Ou tem feito descobertas promissoras relacionadas a outras áreas. Mas minha carga psico-sociológica tem a pretensão de ser substancialmente menos segregadora que essa linha de raciocínio. Descobriu-se, e daí? Se estou aqui escrevendo neste computador é porque tenho dinheiro, não porque sou herdeiro da tecnologia. Se eu tivesse Leucemia, pobre de mim se eu fosse pobre, que esperaria anos na fila. Se eu quisesse mandar um e-mail, pobre de mim se eu fosse pobre, porque somente 6% da população brasileira envia mensagens eletrônicas. Isso me chateia. Não chega a me tirar o sono, pois minha pretensão de mudar o mundo não é revolucionária, mas é ao menos autêntica. Fico realmente triste, podem acreditar!
Por tudo isso, não vejo necessidade de acreditar (crença) que a evolução do ser humano é real. Evoluímos fictíciamente e regredimos inescrupulosamente. Simplesmente prefiro pensar assim. Não quero questionar a veracidade do Teoria dos Jogos de John Nash Jr. ou a Teoria da Relatividade de Albert Einsten. Não estou aqui para julgar Hitler ou Stálin. Quero não sentir mais vontade de dizer para um amigo que ele está errado, entendem? Não há padrão! É tudo uma farsa, uma conspiração para que o Poder não seja rifado. Não há lógica a seguir, é simples convenção, simples senso comum, simples costume. O que quero é fazer as coisas que tenho de fazer da maneira mais excêntrica possível, para não conseguir repetí-la. Quero acreditar (crença) que estou no mundo para fazer diferença, para pensar com o coração, para repudiar a lógica consumerista, fútil, parda, que nos cega dos olhos. Tudo isso porque eu quero! Querer não é poder, mas eu quero. E quero sem pudor. E puta merda, seria massa!

Rodrigo Sluminsky



+++ Etecetera

The Logical Song, Supertramp

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