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Mostrando postagens de 2004
A Simples Arte de Não-Viver O mesmo passo :seco, de todos os dias . A mesma rua :cheia, sempre cheia. E somos tomados pelo vento, pensando donos do destino, como se existisse dono, destino. E andamos naquela mesma rua :seca, dos passos cheios, Pensando que essa gente, quando há, olha pra gente, como se alguém olhasse pra gente. E ainda assim fazemos mais ruas, mudamos os ventos, cremos em destino, olhamos pra gente, pensando donos da vida, como se a vida, quando há e se existisse, tivesse dono ou olhasse pra gente. Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Victor Marie Hugo
Tristeza Mediana Que triste é, ó lua, o sentido ordinário das coisas que pela manhã, acorda que pela tarde, a corda que pela noite, recorda Que triste é, ó lua, a preleção dos mais velhos que ontem, viveu que hoje, sobrevive que amanhã, morrerá Que triste é, ó lua, o discurso apaixonado que antes, chorava que agora, assusta que depois, ironiza Que triste é, ó lua, a poesia que fora salvação que é dúvida que será relíquia Ò, minha lua, donde estão os destemores pelo esdrúxulo que veneram a verdade que afrontam os desafios que desmascaram os fatos Leve-me, por favor, intrépida lua para onde não roubem meu amor para onde meu estômago suporte para onde não desvirtuem o simples ato de chorar Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Tarde em Itapuã, Toquinho e Vinícius de Moraes Discurso do Método, René Descartes
Tamanho do Amor Ofegante e desnorteado, nasce novamente a luz, que sem pedir licença, avigora o coração. E caviloso, percebe que o Amor é do tamanho do sonho. Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Le Nozze di Figaro, Wolfgang Amadeus Mozart Poema em Linha Reta, Fernando Pessoa
Dicotomias Dois verbos: Chorar e Sorrir. Em resposta à concórdia o Riso surge filantrópico; em resposta à discórdia o Choro põe-se egoísta. Com coração, sem coração; coração bom e coração mau, de amar ou não, de odiar ou não. E o mundo arrefece em dicotomias... Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera A Casa de Rubem Alves
Paris? Texas?! Somos magros, somos feios, somos negros. Somos brancas, somos escravas, somos mineiros. Também somos daqueles paulistas bandeirantes, triunfantes nessas florestas tropicais, que estão perecendo nos desertos imemoriais do Império Americano... Nós não somos bacanas, não somos "hermanos"; nós somos ilegais! Nossas mulheres fazem fila por subempregos, nossos filhos multiplicados criam confusões dos diabos com desejos e miscigenações. As raças puras dos velhos continentes que se cuidem com muros de vergonha, murros sem vergonha e passaportes de sangue azul. Estamos sempre em trânsito, procurando um lugar onde cair duros. E essas paisagens são bonitas de se ver em tecnicolor, mas letais nas realidades banais de nossos calores humanos! O fato é que vagamos em vagões de gado, à espera de uma esmola, um trocado, um salário ou uma vaga em Auschwitz. Escondidos nos fundos falsos dos contêineres subsidiados, somos sufocados por esses pós da China que se acumulam...
Dias atrás, ouviu-se uma história de um jovem que se suicidara em uma cidadezinha nos Andes chamada Cerro de Pasco. Segundo relatos, tal garoto chegara de longe, muito longe, ainda que não se soubesse donde, e naquela fria noite de inverno fora se aquecer em um dos estabelecimentos apropriados da cidade. Entrara no bar com passos de forasteiro, mas com um olhar aquém da realidade outrora imaginada. Sentara numa das únicas três banquetas disponíveis. Ao seu lado, o fidalgo não espera segundos para perguntar-lhe: - O garoto tem nome? - Tive, mas perdi-o com o tempo. Aliás, tinha nome e sobrenome, palavras e consciência. Tive rumo, flores e propósito. Hoje, tenho a mim, e é o que me basta! - Pode até ser verdade que não traz consigo a aflição pretérita, mas este lugar não lhe espera e não lhe acolhe! Sugiro que desbanque seus culhões e encontre um lugar seguro para sua melancolia. - Cá estou, cá não quis estar. Simplesmente acompanhei minhas pernas! - E sugiro também que não an...
Por quê? Por que nascemos para amar, se vamos morrer? Por que morrer, se amamos? Por que falta sentido ao sentido de viver, amar, morrer? Carlos Drummond de Andrade +++ Etecetera Biografia Antologia Poética, Carlos Drummond de Andrade Consolo na Praia , poema de Carlos Drummond de Andrade (na voz de Carlos Drummond de Andrade)
Devaneios Era impossível falar de amor naquele canto do coração! E quanto mais se pensava em desespero e temores, saltavam à boca as preciosas falácias apriorísticas... A Bíblia diz que é ressureição; os médicos falam em técnica; bastante gente acha que é mandinga. E não importa o tamanho do marcapasso se acabou a pilha e já não se encontram mais pilhas... Está claro que tudo isso sobrecarrega em muito os outros órgãos! O pulmão está gelado, a boca seca, o fígado dói... O pé não tem mais solado, pois é preciso fugir, procurar o bulbo. Desequilibrado, busca o equilíbrio, com os pés descalços, sem solado. Sente ainda que tem sentido alguns sentidos. Falsos devaneios de domingos à noite... A engrenagem está mais próxima que seus olhos míopes vêem. Muita gente precisa deste velho coração, de sangue novo. Tem gente que sente o que o coração de sangue novo sente! E choram porque não conseguem... Com razão, absolutamente! É muito estranho sentir o que o outro está sentindo, e não saber que o ...

O amor acaba

Não obstante toda insalubridade, o coração sobrevive à miséria. Anda pelos becos, afugentado, à procura de abrigo. Chega a cantar "Singing in the rain" sem guarda-chuva, absurdo para o cinema clássico. Aos prantos, imita Charles Chaplin a proteger a vida do bebê indefeso. O ódio torna-se refém da ternura ao perceber que, mesmo desamparado, pode estar melhor acompanhado consigo mesmo. Sente frio. O Sangue, outrora vermelho-sangue, refrigera-se ao azul-escuro. Seus dezenove centímetros de altura não passam agora de quinze de largura. Manchas púrpuras rodeiam suas extremidades. Foi então que percebe o perigo. Corre desesperadamente. Pula duas ou três cercas, deita-se. O silêncio é interrompido, subitamente. Gritos de escárnio. O coração, afugentado, recomeça sua fuga desnorteada. Pula no lago recém congelado. Aquela noite de outono trouxera os píncaros da saudade. Imerge! Nessa hora o coração já está gelado, intransponível. Sente calafrios, medos, sensações de indiferença. De...

Lágrimas de sangue

Durante muito tempo temos a sensação de estarmos protegidos das coisas do mundo. Quando crianças, temos sempre aquele amor fraterno de nossos pais. Jovens e rebeldes, vemos nas novas descobertas a proteção necessária para a sobrevivência social. A partir do momento em que percebemos a fragilidade de nossas convicções e conquistas, agarramo-nos em uma consciência intelectual única e individual, com padrões moralmente definidos, para continuarmos a proteção e à proteção do mundo. Desvinculados dessa segurança retilínea defendida pela cultura ocidental, tudo que apregoa-se evapora ao descaso e à falta de sensibilidade alheia. O resultado é preemente e avassalador, dentro daquele prognóstico ético(1) de vida: se não sofrer uma aborto, o feto garante sua possibilidade de chorar, ao menos, pois ainda corre o risco de ser jogado em uma lata de lixo qualquer; e muito embora sua mãe resista à pressão sócio-econômica-cultural de prezar pela vida da criança e por sua sanidade mental, não há expe...
Fio da Vida Já fiz mais do que podia Nem sei como foi que fiz. Muita vez nem quis a vida a vida foi quem me quis. Para me ter como servo? Para acender um tição na frágua da indiferença? Para abrir um coração no fosso da inteligência? Não sei, nunca vou saber. Sei que de tanto me ter, acabei amando a vida. Vida que anda por um fio, diz quem sabe. Pode andar, contanto (vida é milagre) que bem cumprido o meu fio. Thiago de Mello E quem teria a pretensão de dizer coisa mais certa? Alguém poderia me dizer, por favor? Ou vocês pensam que isso é uma ruanice, que estamos aqui para completar um ciclo e que, quando Deus vier nos salvar, nada de pecado irá nos restar. Nada, nem mesmo a vaga inocência, será lembrado após a supressão da ternura. Somente levará consigo a incapacidade de não conseguir fazer o que deveria ter feito! +++ Etecetera www.ims.com.br Unforgettable, Nat King Cole
Tratado sobre o nada Dia desses estive pensando em duas possibilidades. Claro que havia muitas outras coisas para colocar na lista, mas, em essência, somente estas duas possibilidades eram reais. Mesmo porque a realidade deveria preponderar na escolha dos juízos. Não que isso seja regra. Foi da imaginação de Ferdinad Pourroit, por exemplo, que a humanidade conseguiu avançar nos estudos científicos mais importantes. Mas nesse caso, era indispensável que a escolha fosse feita dentre essas duas possibilidades. O processo de tomada de decisão foi muito difícil. Descartar determinados pontos, que certamente não eram descartáveis, causou-me embolias incessantes. O medo não estava presente como aquele conselheiro fiel, de todas as horas. Minhas pernas tremiam mesmo, e só de pensar em tomar a decisão errada meu ventre arrefecia-se a calafrios. Então, intempestivamente, colcluí que somente superaria minhas expectativas se instituísse um parâmetro altamente eficaz para a resolução de confli...
O astro (in)visível À Lua ofereço minha fidelidade Lua cheia, imperiosa que no céu, permanece que o sol vai invadir À mente proíbo a sobriedade Mente vazia, prepotente que no céu, desaba que o sol nunca vai invadir Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Birdland, Charlie Parker www.allaboutjazz.com/index.html
Violência psicológica É facilmente perceptível como as pessoas andam sem metas concretas para suas vidas. E não se trata somente de adolescentes que não têm, ainda, o discernimento para determinar tal objetivo substancial. Aquilo que Weber chamava de "desencantamento do mundo" está amplamente recuado na sociedade contemporânea. Em sentido estrito, na época ele explicava isso como sendo um "um longo caminho no qual as concepções mágicas e religiosas do mundo vão sendo substituídas por uma concepção racionalizada da existência." (SELL, C. E. p. 128) Esse processo de racionalização de condutas, hoje, é tomado de modo inverso. As pessoas cada vez mais buscam na futilidade o sentimento de liberdade. Mistura-se o conceito com a finalidade, restando tudo na superficialidade. Enquanto as diferentes religiões, ou facções, atraem seus missionários, enquanto a invasão das telecomunicações não são contidas, enquanto os excessos não puderem ser comedidos, nada restará efic...
Tratado 2º sobre o Amor Ontem foi o dia em que as flores estavam incomparáveis :época de sinceras ilusões, e desilusões, e calmaria, e comodismo, e felicidade... Nada teve a ver com tristeza, nem a hipocrisia foi protagonista desta história :simples mente a mente simples, em equilíbrio! Hoje o dia está azul, cuja raiva daltônica não se deixa iludir, de azul, ou vermelho, ou roxo... Porque também os joelhos não mais suportam a mentira, ainda que as flores permaneçam cromófilas, e ainda que sejam pintadas com lápis de cor! Para amanhã já espero a frustração, que reunirá a anabolia de viver em paradigmas com a mente e de morrer em fossas sentimentais com o coração... E ainda que a tristeza não esteja relacionada; mentira que não propago à hipocrisia da felicidade :minha flor predileta continuará sendo a margarida! Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera Nothing Compares to You, Sinead O'Connor Pico na veia, Dalton Trevisan
Poética "De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo (...)" Trecho de Poética , de Vinicius de Moraes +++ Etecetera www.taste.com.br
Outra Comédia da Vida Privada uma homenagem a Luís Fernando Veríssimo O sujeito nasce, do nada, como se fosse qualquer hortifruti encontrado na mercearia do seu Agostinho. Parecido com aquele repolho de segunda-feira. Também não pedira para nascer. Fora jorrado do ventre de sua matriarca. - Olha - diz ela -, ser mãe é "padecer no paraíso". Estou realizada! Pois é, então! Tanto faz! Acontece que o maldito acabara por conhecer o que os religiosos chamam de "passagem". E dera de cara logo com aquele estúpido auto-didata que se denomina obstetra. Isso depois molestar sua mãe, agarrar suas pernas e bater na sua bunda. No entanto, segundo o pai, nascera com um peso considerável - 2,789 Kg - e uma expressão de vencedor. Tinha até barba! Dá para imaginar a cara de felicidade do paspalho. Aliás, ninguém tinha muita certeza se aquele ser que estava na sala de cirurgia era realmente o pai. Eu não botaria minha mão no fogo. Sei que a dona Nezinha tinha um fogi...
>>> Organização, excelência, felicidade, otimismo, beleza, coragem, experiência, objetividade, satisfação, imponência, força, bem-estar, audácia, determinação, alegria, êxito, civilidade, harmonia, nobreza, satisfação, vida, prosperidade, expectativa, vigor, inspiração, honra, modernidade, certeza, bondade, intrepidez, resolução, conformismo, segurança, integridade, perseverança, sagacidade, veracidade, fidelidade, salubridade, ação, deleite, intrepidez, agilidade, fervor, fraternidade, amor, honestidade, patriotismo, sanidade, ilibidez, ética, literatura, cortesia, competência, conveniência, concruência e coerência. Et coetera . Ausência Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. Ca...
>>> Desorganização, imperfeição, melancolia, pessimismo, fealdade, covardia, imperícia, subjetividade, descontentamento, modéstia, fraqueza, mal-estar, timidez, indefinição, tristeza, fracasso, delinquência, orgia, pobreza, desgosto, morte, retrocesso, desespero, apatia, desânimo, infâmia, caducidade, dúvida, maldade, medo, hesitação, inconformismo, instabilidade, parcialidade, desistência, inépcia, displicência, crueldade, ódio, indignidade, antinacionalismo, insanidade, contaminação, imoralidade, secularidade, impolidez, ignorância, inconveniência, incongruência e incoerência. Et coetera. As sem-razões do amor Eu te amo porque te amo, Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, n...
Reflexões Que diríamos da inocência? Carência de culpa, simplicidade, ingenuidade, candura. Há sim o princípio geral da inocência, ou melhor, da presunção da inocência, mas que isso significa? Na verdade, isto está bem mais ligado ao padrão adotado por uma determinada sociedade que uma conduta ética típica, propriamente dita. Geralmente sucede um acontecimento de exacerbada repercução, ou por envolver celebridades, no seu sentido estrito, ou por simplesmente ferir de tal maneira os costumes locais que não haja mais como pensar em possibilidades semelhantes. Claro, estas coisas acontecem justamente pela defasagem temporal na previsão de atitudes desestabilizadoras. Regular o destino do cidadão é extremamente difícil, mormente para sua parcela laica, necessitando de profunda reflexão do legislador. Infelizmente, provou-se que na prática é impossível elaborar situações hipotéticas, não por falta de imaginação da população ou por escassez de recursos técnicos, mas por incompetência ...

Cerrado e Dilacerado

A porta se abriu sentindo a esperança cansada de esperar simplesmente. A janela também se abriu numa revelação inédita - e com ela a cortina os olhos, a outra porta. E desceu - onde pudera subir onde devera subir para onde deveria ter ido. E sozinha, consigo. E outras coisas se abriram - a boca, o livro, a torneira enquanto a alma permanecia fechada. Rodrigo Sluminsky +++ Etecetera www.mardepoesias.com.br
Eu sei, mas não devia Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem. A comer sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ig...
Os Ombros Suportam o Mundo Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teu ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. Carlos Drummond de Andrade Mesmo que a vontade seja a de chorar...
Lógica ilógica Acho interessante como as coisas seguem a lógica. Muito idiota pensar assim, mas é o que acontece. Por exemplo, um amigo meu questionou, entre outras coisas, o porquê de os azulejos estarem simétricamente bem dispostos, tendendo à perfeição, a olho nu, ao menos. Diz ele, e eu até concordo, que é muito simples enganar nosso cérebro. As coisas mais fúteis nos chamam a atenção de uma maneira inversamente proporcional à nossa capacidade intelectual. Ou vocês nunca viram um homem, heterosexual e viril, apreciando páginas de "pornografia artística"? Mesmo os cientistas mais bem conceituados para discorrer sobre a matéria perdem-se no ilusionismo. Quero dizer com tudo isso que não há lógica! Tudo é crença! Ah, céticos de plantão, dir-me-iam vocês que é comprovadamente comprovado (segundo as regras de redundância pleonasmáticas) que o homem foi à lua em 1969, ou que Platão era uma bicha inrustida, ou que Jesus não era o filho mais novo de Maria, ou ainda qualquer...
Então, dia sem sentido hoje. As pessoas têm costume de dar o nome aos bois. Chamam de crise existencial, estresse, má-disposição, frescura, sei lá. Não tenho certeza do que está faltando para reverter esse quadro sádico e depressivo. Normalmente buscaria as inferências no cerne das maravilhas etílicas, mas nem isso minimiza o tédio. Aproveitarei, então, para representar o Filósofo nas nossas mentes. Nada de comentários taratológicos ou pragmáticos acerca do ceticismo e da descrença de Schopenhauer , mesmo porque a época é de construir bases sólidas de sustenção - moral, social, psíquica, et coetera. A desconstrução de valores deixarei para Denys Arcand (+++ Etecetera) na divagação de hoje. Não se trata de ausência de vontade - no próprio sentido do inconsciente pregado pelo Filósofo -, mas de pura desarmonia entre as sinapses. Arthur Schopenhauer Schopenhauer & origens>>> Arthur Schopenhauer , filho de um rico comerciante, nasceu em 22 de fevereiro de 1788, em...
Já notaram como nossa vida está cada vez mais fútil, mais difícil de ser carregada? Notaram como a inversão de valores é cada vez mais constante na rotina que nos acompanha? Ultimamente tenho procurado uma maneira de escapar da fragilidade que nos incomoda nos momentos de crise de consciência, devido à possibilidade de um futuro incerto. Não sei ao certo se definir uma meta é realmente eficaz. No entanto, percebi que em todos esses momentos contínuos de insensatez ludibriante havia um certo alguém que olhava teus passos e te colocava nos trilhos novamente. Também não há necessariamente de ser uma pessoa (ou várias). Mas falo hoje especialmente de pessoas. Já nos demos conta da importância de cultivarmos amizades consistentes durante todo nosso processo de desenvolvimento, sobretudo de formação de caráter? A amizade é formada sem explicações lógicas. Todos os dias nos deparamos com alguém que possui as características exatas da pessoa que poderia ser o nosso melhor amigo, não signif...
Tratado 1º sobre o Amor Então você pára, respira ofegantemente, raciocina, e desiste. Desiste porque você não tem coragem, porque você tem receio, medo de ser privado... Raciocina porque nem todos somos macacos; alguns são chipanzés, lontras, rinocerontes... e Respira porque você não quer morrer, não hoje, não ao menos ver como termina... - PARE! - Não, não ouço tão petulante voz. - PARE, se não te amo! - O quê? Amar-me? Tu? Tais loca, devassa? Amor é para quem não sabe falar, mas fala. Amor é para quem não sabe rolar, mas rola. Amor é pra quem não sabe cantar, mas canta. - Juro! (!!!) Juro "por tudo que é mais sagrado"! - Ser ignóbil da Natureza, nada mais me fascina. O Amor é a estrela que guia o horizonte dos ébrios, ao luar, na mais clara escuridão já vista. Amor é algo que se compra com títulos a longo prazo, e que não se vendem, jamais. Amor é algo assim, idiota, moroso, insensato, frodisíaco, indiscreto, insano, desajuizado, incoerente, ...

Esperança

Esperança Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano Vive uma louca chamada Esperança E ela pensa que quando todas as sirenas Todas as buzinas Todos os reco-recos tocarem Atira-se E — ó delicioso vôo! Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada, Outra vez criança... E em torno dela indagará o povo: — Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá (É preciso dizer-lhes tudo de novo!) Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam: — O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA... Mário Quintana Por favor, leiam de novo! Leiam e releiam, quantas vezes for preciso. Mas não levem muito a sério não. Mário Quintana tinha uma maneira peculiar de animas as pessoas. Nas suas obras há poucos traços pessimistas, de poeta recuado. Dizia ele: "Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer". Seguir em frente era uma obrigação para com o mundo, pelo que entendo. Notar as coisas simples, perceber que pouca coisa é perfeita e saber lidar com...
Os Sentidos não têm sentido Dir-me-iam o quê, Deuses surdos e mudos e insípidos? Dois sentidos é muito para quem teve pouco, mas é muito pouco para quem teve muito! Dois sentidos, apenas: Visão e Tato. Visão tímida, tato redundante, indeciso. Olfato nulo, ininteligível. Audição monossílábica, ou até onomatopéica. Gustação incontestavelmente desproporcional. Ph -30° F. Sexto sentido. Medo de sentir o sexto sentido. Medo de saber que o sexto sentido existe. Pavor do sexto sentido. Dor, de quem não tem sentido, que não está sentido. Um sentido, mais outro sentido. Dois sentidos. Uma só sentida. Mas dois sentidos em uma só sentida. Mais que isso é arriscado. O poço vem rapidamente até nós. O fundo do poço é mais raso que dois sentidos. Confiram comigo: > O poço é dois mais um milésimo, menos um, sobre dois. > O fundo do fundo do poço é um menos esse milésimo, mais meio. > Embaixo do fundo do poço é esse um menos o tal do milésimo, menos vírgula novecentos e noventa e ...
Ciência plenamente refutável vs Auto-ajuda de 5ª Apresento-lhes uma experiência diretamente tirada da internet (sem fonte, portanto) e uma conclusão pseudo-filosófica plenamente contestáveis. Minhas conclusões acerca do conteúdo não causam nenhum reboliço. O ceticismo constante traz à tona a inércia de quem já está parado. Mas sintam-se à vontade para criticar e/ou contemplar a idéia proposta (Você e etc.). Agradeço a compreensão e a paciência. O aforismo subseqüente, no entanto, é de altíssima qualidade e autoria comprovada. >>> Ciência plenamente refutável Um cientista coloca um ratinho em uma gaiola. No início, ele ficará passeando de um lado para outro, movido pela curiosidade. Quando sentir fome, irá na direção ao alimento. Ao tocar no prato, no qual o pesquisador instalou um circuito elétrico, o ratinho levará um substancial choque. Depois disso, o ratinho correrá na direção oposta ao prato. A dor provocada pelo choque faz com que despreze o alimento. ...
Constituição & etc. Bom pessoal, um pouquinho de cultura cívica para reanimar nosso amor pela Pátria. Constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém um conjunto de normas reguladoras referentes, entre outras questões, à forma de governo, à organização dos poderes públicos, à distribuição de competências e aos direitos e deveres dos cidadãos et coetera. Toda outra forma de legislação deve respeitá-la, independente de onde venha, inclusive no caso de legislação internacional. O Brasil tem na sua história sete constituições oficiais, uma no período monárquico e seis no período republicano. As mudanças constitucionais, em geral, ocorrem no contexto de importantes modificações sociais e políticas do país, como geralmente acontece com qualquer nova deliberação. São inúmeras as modificações constitucionais e a quantidade de leis existentes no nosso país. Para se ter uma idéia, até o ano passado haviam sido registradas mais de 40.000 leis especiais, que são resp...
"De nada adianta cercear um coração vazio ou economizar alma..." Luís Fernando Veríssimo Pra mim esta parte do Veríssimo já está ótima! Estou indo pra balada. Uns amigos meus estão vindo aqui me buscar, e eu tenho certeza que o pé quebrado (tsc, tsc) não será obstáculo. Só não falarei pro médico, né? +++ Etecetera http://www.hablaserio.com.br Stayin' alive, Bee Gees
O que é arte? Objetivamente, Arte pode ser uma forma direta (ou indireta) de transmissão de emoções. Seria a transfiguração de um sentimento, a sublimação do metafísico. Todos já ouvimos falar, por exemplo, que o cinema é a sétima arte, mas vocês sabem quais são as outras? Essa classificação é bastante simples e razoável, podendo até mesmo ser hierarquizada: Primeira arte >>> Música Segunda arte >>> Dança Terceira arte >>> Plástica bidimensional (Desenho/Pintura) Quarta arte >>> Plástica tridimensional (Escultura) Quinta arte >>> Teatro Sexta arte >>> Literatura Sétima arte >>> Cinema As quatro primeiras artes são certamente mais antigas. Nasceram com o mundo pré-escrito e já eram materializadas, de alguma forma, pelos animais. A ordem entre a quinta e a sexta arte é ainda controversa. Considera-se o Teatro como mais antiga que a Literatura, justamente por esta estar à mercê da invenção da escrita, p...
Soneto Quem diz que Amor é falso ou enganoso, ligeiro, ingrato, vão, desconhecido, Sem falta lhe terá bem merecido Que lhe seja cruel ou rigoroso. Amor é brando, é doce e é piedoso; Quem o contrário diz não seja crido: Seja por cego e apaixonado tido, E aos homens e inda aos deuses odioso. Se males faz Amor, em mi se vêem; Em mim mostrando todo o seu rigor, Ao mundo quis mostrar quanto podia. Mas todas suas iras são de amor; Todos estes seus males são um bem, Que eu por todo outro bem não trocaria. Luís de Camões +++ Etecetera A insustentável leveza do ser, Milan Kundera Nocturne op48 nº 01 in C miror, Chopin
Crônica do coração Zé Barnabé era um cara legal, rodeado de amigos e tal. Vivia sempre alegre. Adorava ouvir música, caminhar à Beira-mar, praticar esportes. Também estudava com afinco. Gostava mesmo de saber o que estava fazendo; era um homem que ficava mal em estar por fora dos assuntos do momento. Lia jornal. Todos os dias! Política era sua utopia! Mas o que interessava mesmo era Ritinha. Política era o passatempo, assim como o vinho e o uísque. Ritinha era sua paixão! Faria tudo por ela. O problema é que Zé Barnabé era meio desajeitado. Até era sim meio galã, com ar esnobe e prepotente. Mas ainda assim ele não levava jeito para cavalheiro. Pior mesmo, levava jeito era pra cachaçeiro! Ah...isso era a especialidade. Botequim de quinta, boemia ferrada, cana das boas. Ainda bem que ele era azarado, porque senão até na jogatina o filho-da-puta se dava bem. - Diga, meu filho, o que acontece? - Eu sou muito azarado. - Não seja presunçoso. Tem uma família que te ama, amig...
É preciso não esquecer nada É preciso não esquecer nada: nem a torneira aberta nem o fogo aceso, nem o sorriso para os infelizes nem a oração de cada instante. É preciso não esquecer de ver a nova borboleta nem o céu de sempre. O que é preciso é esquecer o nosso rosto, o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, a idéia de recompensa e de glória. O que é preciso é ser como se já não fôssemos, vigiados pelos próprios olhos severos conosco, pois o resto não nos pertence. Cecília Meireles Talvez alguém aqui leia a coluna semanal da Martha Medeiros (http://almas.terra.com.br/). Não, não peguei lá esta poesia da Cecília. Simplesmente reconheci certa semelhança entre os dois textos. A interpretação desta obra poética continuará à deriva, eterna, intocável! O texto da Martha é sim mais simples, porém não perde seu mérito. A idéia essencial poderia ser resumida naquele célebre aforismo: ...